Eram 11 da manhã desta terça-feira quando olhei o céu e agradeci aos deuses e demais acólitos terem-me ajudado a finalizar esta demanda.
Pelo chão ainda se viam mantadas de azeitona por escolher,
que mãos hábeis rapidamente limparam. Depois ensacar e sacos em cima do reboque para ao fim da tarde partir para o lagar.
O lagar, diria, que é quase um lugar mágico. Aqui se transformam muitas horas, dias, semanas de trabalho num líquido semi verde, semi amarelo, viscoso, mas saboroso.
Há muito que os lagares de ceiras e enormes mós de pedra desapareceram. Poderá haver um ou outro, mas sem creditação legal para o fazer.
No entanto o cheiro dos lagares é bem característico e não obstante ser um tanto forte... eu gosto!
Entreguei neste local 2030 quilos. Se descontar a folha que foi a acompanhar aceito as duas toneladas!
Foi um razoável pecúlio para três dias e meio de trabalho. Com chuva, muita chuva!
É hora de agradecer aos meus filhos e ao meu sobrinho a prestimosa ajuda que me deram. Sem eles ainda estaríamos longe do fim.
Finalmente... o lagar deu o seu veredicto: 243 litros.
Ontem o dia acordou chuvoso colocando-me a questão: teimar ou não teimar!
A equipa concordou... teimar!
E lá fomos nós dar cabo das azeitonas que ainda dormiam nas árvores. Porém a chuva intensificou-se e à hora do almoço pensou-se em não regressar. Só que o tempo abriu e foi uma tarde bem proveitosa.
Hoje logo de manhã lá estávamos... mais uma vez! Um vento frio soprava da serra da Gardunha, mas não nos impediu de trabalhar! As oliveiras sucediam-se e as mantadas de azeitona colhida espalhavam-se pelo terreno.
Sem telemóvel para fotografar a manhã vinguei-me de tarde quando umas nuvens surgiram por detrás da montanha e ainda assustaram devido à... pouca chuva.
Deu para rever o arco-iris com a Gardunha por trás.
As varejadoras não paravam e eu corria para dar vazão ao trabalho dos apanhadores: mudar panos para novas oliveiras, escolher azeitona e ensacá-la... ufff!
As mantadas pareciam crescer de cada vez que reunia a azeitona... Sacos e sacos cheios espalahavam-se pelo chão.
Mas as pequenas árvores teimavam em ser competentes... Como esta:
O fim do dia aproximava-se. Num relance olhei a fazenda verde e gostei do que vi
os sacos espalhavam-se... sinal de azeitona colhida e limpa!
O frio regressou e voltámos para casa conscientes que fora um dia bom. Se tudo correr bem amanhã acaba-se e a azeitona irá para o lagar.
Há uns tempos alguém aqui na aldeia onde me encontro por estes dias de Outono me perguntava, quando se falava de azeitona:
- Porque vens de Lisboa de propósito para a apanha?
Poderia ter-lhe respondido de forma quase filosófica ou então de uma maneira bruta e mais assertiva. Porém respondi-lhe com sinceridade, o que fez com que ficasse mais atrapalhado, já que pensou que teria uma outra resposta para lhe dar:
- Venho porque... gosto!
A ideia de alguém gostar de apanhar azeitona pareceu-lhe provavelmente invulgar, mas acima de tudo uma ideia parva. Imagino mesmo que o terá comentado para si mesmo.
Mas desconhece esta gente que cresci no meio de oliveiras e azeitona, porque na aldeia onde não nasci, mas fui criado era o negócio de quase todos. Desse tempo guardo ainda as pias de pedra onde a minha avó guardava todo o azeite. E quando chegava o inverno e o frio coalhava, o cada vez mais precioso líquido, era vê-la de cafeteira com água a ferver e colocá-la do cimo do azeite coalhado de forma a rapar o suficiente para temperar a comida.
O tempo passou célere e as pias, que ainda existem, têm uma função mais decorativa, já que o azeite vai ficando nas bilhas de plástico até ser utilizado.
Hoje choveu muito por aqui, especialmente de manhã. Todavia a equipa que me acompanha manteve o ritmo que podia, até irmos almoçar.
De tarde tudo mudou e já se pode trabalhar melhor!
Este trabalho fica-me caro. Provavelmente mais caro que ir a um supermercado comprar uma garrafa de azeite.
Só que ter aquela certeza do que estou a comer e do que me custou a apanhar tem um valor incalculável a que muitas pessoas não darão valor!
Iniciei hoje a segunda temporada (a exemplo das séries televisivas!!!) da azeitona, desta vez na Beira Baixa a um quarteirão de quilómetros de Castelo Branco.
O tempo metereológico, visto em diversos sítios da internet, apontava para a previsão de muita chuva para este dia. Às seis da manhã quando saí de casa para ir ao pão ainda não chovia, mas às sete e meia caíu uma borrasca que me atemerizou.
Teimei!
E foi o melhor que fiz... pois mesmo com a queda de algumas bátegas conseguiu-se um óptimo empenho e à hora do almoço já se decidia qual a fazenda a seguir.
Todavia calhou-me a fava e durante a tarde fui escolher azeitona. A mantada que faltava era esta
que "só" deu 13 sacos, uns mais cheios outros menos dependendo do tamanho dos sacos.
Mesmo no final do trabalho desatou a chover e não fosse o oleado que trazia vestido nem imagino como chegaria a casa.
Tudo somado foram colhidas todas as oliveiras deste pedaço de terra fértil somando 26 sacos...
com azeitona escolhida e pronta para ir para o lagar!
Noutro ponto da aldeia a equipa mais nova fazia por deitara abaixo mais azeitona. Escolheram três, mas segundo disseram ainda ficou muito por limpar...
Este tempo de chuva obriga a quem anda na rua a carregar consigo um equipamento extra. Uns chama-lhe chapéu-de-chuva, outros guarda-chuva e há quem utilize uma experessão popular chuço!
Já eu prefiro não usar nada até porque ando pouco na cidade e quando o faço é sempre rápido e sem demora!
Hoje voltei ao Metropolitano de Lisboa quase à hora de ponta já que este estava cheio. Saí na Baixa-Chiado que fica, para quem não sabe, no coração da Baixa Pombalina ulissiponense.
Saímos muitos. As escadas estavam repletas. Muita gente trabalhadora, alguns turistas e outros, como eu, provavelmente reformados. Todos muito encostados (já lá vai o tempo do distaciamento social) fomos lentamente galgando os degraus. À minha frente uma senhora bem mais nova que eu carregava um saco, a sua mala e debaixo do sovaco um chapéu-de-chuva ocupando para a parte traseira um certo espaço. Cuidei-me não fosse ser atingido mesmo de forma involutãria por aquele aguilhão.
Mais â frente outra senhora também de ferramenta contra a chuva em riste. Consegui chegar à rua sem percalço, mas logo ali desviei-me de novos arremessos já que principiava a chover e o pessoal toca a abrir o dito cujo!
Entretanto as pessoas sem ferramenta corriam para se abrigar enquanto os que andavam armados desenfiavam-se pela rua chocando contra outros chapéus.
Reconheço que sempre fui horrível condutor de guarda-chuva, preferindo sempre não o usar a ter que andar com ele espetado para o Céu. Mas já percebi que não sou só eu quem tem essa dificuldade. Geralmente quando o usava tinha sempre alguém que me ajudava na condução, pois de outra forma ficava mais molhado e arriscava-me ainda a ferir alguém!
Realmente estou muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito longe deste enorme artista... de chapéu!
Tenho uma idade que supostamente me deveria dar uma liberdade pessoal que... não tenho. Quando não é a neta ou até os filhos, surgem os pais!
Sou filho único de um pai nonagenário e uma mão octagenária. Portanto idosos.
Desde há uns tempos que o meu pai vem decaindo em termos de saúde. Principiou em 2019 com uma cirurgia ao coração para mais recentemente surgir uma anemia que se veio a descobrir ter origem em falhas renais!
Limitação na alimentação, especialmente ausência total de sal e em outras opções a evitar. Porém os rins continuam a ameaçar falhar. De tal forma que hoje tive de fazer 310 quilómetros para o ir buscar a casa, levá-lo ao hospital, ser visto e alertado para os diversos problemas que poderá via a ter e finalmente as opções que tinha entre mãos.
Não obstante a idade o meu pai ainda tem a cabeça no lugar. E sabe decidir sem necessidade de qualquer ajuda externa. Este dia foi totalmente dedicado a ele, à sua doença e tratamento.
Escolheu vir a fazer hemodiálise numa unidade hospitalar. Agora irá aguardar que o chamem para consultas preparatórias.
Tudo isto para dizer que tenho hoje mais uma responsabilidade acrescida: fazer com que o meu pai e obviamente a minha mãe vivam os dias que lhes restam com a melhor qualidade de vida possível.
Nestes dias de pluviosidade incomum o trânsito na capital, já de si assaz caótico, tende a piorar. Ou seja pela muita chuva que obriga a andar mais devagar ou seja pelo estado das ruas sempre muito deterioradas e raramente remendadas.
Os artistas que comandam as áreas dos pavimentos têm pouco senso para a possibilidade de dias com muita chuva, como são os de agora. E esta insensibilidade vê-se na maneira como os arruamentos são feitos, sem escoamentos capazes de evitar os lagos de água que vamos encontrando.
Não me venham com a ideia de que a cidade é centenária pois há zonas novas onde o problema das inundações das ruas também acontece! A maioria das vezes porque as sarjetas encontram-se entupidas e só ajudam alguns condutores imbecis que ao verem uma poça de água junto ao passeio adoram acelerar. Percebem para quê, não percebem?
Por causa desta postura de alguns automobilistas vi alguém, há muito tempo, no passeio com um calhau na mão... Nem imaginam como as velocidades se reduziram!
Quem anda pelo campo terá sempre a hipótese de ter diversos encontros com alguma fauna que não vemos amiúda nas enormes urbes. Não sendo dado ao estudo da bicharada, ainda assim, sempre quen encontro um bicho invulgar tenho tendência para o fotografar ou se puder... filmar.
Este ano estes encontros foram poucos mas merecem uma divulgação. Os bichos aqui presentes não fazem mal a ninguém, todavia sei que há pessoas que ficam impressionadas comas imagens.
A primeira foto é de uma lagarta da oliveira! Tenho a ideia de que cada vez há mais, não obstante desta vez só ter visto esta.
Entretanto enquanto estendia um pano toquei na casca velha de uma oliveira que descobriu uma osga na sua pré-hibernação. Estava de cabeça para baixo no tronco, mas nada lhe fiz. Assumo que estes répteis me fazem alguma confusão, saí dali o mais depressa possível. Quando regressei já lá não estava!
Vêm agora os pequenos filmes. No meio das pedras encontrei uma centopeia que teria uns dez centímetros e era muito bonita. Dizem os conhecedores que estas mordem e que a sua mordedura dá dores horríveis, mas não é fatal.
Por fim uma espécie de insecto (quase arriscaria a dizer que parece uma daquelas vespas asiáticas) que deambulava por entre pedras. Curiosa... diria eu! Talvez fosse do barulho da varejadora!
Desde o ano passado que oiço gente a dizer que o preço do azeite vai subir muito. Posso acrescentar que é a verdade já que no lagar onde fiz a minha azeitona já se vende o garrafão de cinco litros a... 45 euros!
Em termos meramente teóricos diria que este poderia ser o preço justo para este tão apreciado produto. Todavia na prática considero um exagero.
Explicou-me o dono do lagar que o problema vem dos espanhóis que serão o maior produtor de azeite do Mundo. já que a produção por terras castelhanas parece ter uma quebra fantástica.
Ora com este monopólio entre mãos têm força suficiente para gerir os preços a seu bel-prazer. Contou-me outro dono de lagar que a semana passada apareceu na sua casa um espanhol que de notas de euro em riste pretendeu comprar toda a produção de azeite velho a... 8,40 euros o litro.
O lagareiro disse logo que não! E a meu ver fez bem pois assim não inflacionou o preço deste belo tempero!
Não imagino o que terá acontecido na vizinha Espanha para terem tão pouca produção, mas não será inocente a tentativa de alguns agricultores espanhóis em fazerem as pobres das oliveiras produzirem azeitonas... duas vezes por ano! Tal como cá, infelizmente!
Entretanto o meu azeite é bom, mesmo o do ano passado já que é tão fino que nem sabe a... azeite. Tem origem em oliveiras certamente muito centenárias e sobre as quais mantenho uma cuidada postura não as deixando crescer muito ou alargar demasiado.
Cada dia que passa parece que este líquido estará a tornar-se o novo ouro.