No passado fim de semana fui à Beira Baixa. Numa das fazendas da família há um pessegueiro mandado plantar por nós e que este ano teve tantos pêssegos que alguns ramos vergaram com o peso dos frutos.
No entanto esta árvore entra no rol daquelas frutíferas plantas a quem não foi aplicada qualquer essência milagrosa que as tornasse resistente... à bicharada. Biológicos (detesto esta expressão) não é como lhe chamam?
Coube-me apanhar os ditos pêssegos! Grandes, perfumados, lindos devido à cor e à pele aveludada. Uns encontrei-os maduros, outros maduros demais e ainda alguns mais para o verde.
Quando peguei no primeiro este desfez-se na mão já que o seu tempo de validade, há muito passado. Mas fui aos outros e tive o cuidado de escolher aqueles que realmente pareciam ser mais comestíveis. Já com todos colhidos peguei num e abri-o para provar!
Bingo! O prémio estava dentro no caroço já que lá sairam diversos insectos a que geralmente dão o nome de... corta-dedos.
Este fruto obviamente não o trouxe, mas vieram mais de trinta quilos numa caixa de plástico.
Hoje abri novo pêssego e lá estava mais... carne! Afastei-os para o jardim tornando-os uns sem-abrigo!
Fiquei então a pensar se os defensores dos animais sabem disto ainda arrisco a ir preso!
O meu livro lançado no passado mês de Maio continua a ser alvo de referências deveras elogiosas por parte dos leitores.
Desta vez foi o meu companheiro de escrita no blogue "Sporting - És a nossa fé", Pedro Oliveira, que no seu blogue pessoal apresentou a sua importante e assertiva opinião sobre o meu livro.
Um belíssimo texto, tendo sido este devidamente acompanhado por uma foto assaz sugestiva.
Todos nós sem excepção temos dias chatos para não dizer terríveis! Faz parte da vida. Mas o que conta é que consigamos ultrapassar cada obstáculo com uma segurança assente mais na razão que no coração.
O problema é que o coração é um estupor e por vezes tem mais força que a própria razão, mesmo que digamos o inverso.
Há um corropio de emoções que a cada segundo passa na nossa vida. Temos, assim, de saber perceber, nesta catadupa de sensações, quais serão aquelas que nos farão ser mais felizes.
Sem isso ficaremos reféns de neuras que não nos levarão a qualquer lado.
Portanto hoje é dia de ter coragem e mostrá-la nos nossos gestos mais simples e banais!
Ontem pelas seis da manhã saí de casa na velhinha aldeia no sopé da serra da Gardunha. Àquela hora o calor já era considerável prenunciando o que seria (como foi!) um dia muito quente!
Depois de ir ao pão, de tomar o pequeno-almoço e de um café fui fazer o costumado périplo pelas fazendas da família tentando saber se haveria intervenções para fazer.
A três quilómetros do centro da aldeia cheguei a uma pequena quinta de 20 hectares com uma casa de pedra recuperada, mas sem ninguém a viver e conhecida na zona como... "a casa das cobras"!
Na frente da habitação há um conjunto de meia dúzia de sobreiros frondosos e certamente centenários. Ao lado duas dúzias de oliveiras de azeitona galega.
Da parte de baixo uma charca, nesta altura do ano e com este estio a meia dose. Mas foi aqui neste mini paraíso que acabei por escutar esta melodia da manhã.
Não consegui apanhar os patos selvagens que ali pernoitam nem nenhum dos esquilos que costumam veranear nos longos ramos dos vetustos sobreiros.
Nunca fui um menino bem comportado. Na primária e por causa de uma ditadora tinhamos de andar na linha. Ainda assim colocaram-me umas orelhas de burro (coitadinhos do gado asinino!!!) e obrigaram-me a ir para o recreio das meninas. Uma humilhação que me custou uma vida inteira pois terá sido a partir desse dia que passei a odiar a escola.
Mas quando passei para o preparatório e mais tarde para o Liceu veio ao de cima a minha malandrice. Não obstante de em cada ano angariar uma nova alcunha... Aprendi por isso a viver sob o efeito da humilhação e que me tornou muuuuuuuuuuuuuuuuito mais forte psicologicamente. Aguentei tudo e mais alguma coisa sem tugir nem mugir, pois já sabia quanto mais refilasse mais era amachucado.
Colegas vieram e outros foram, mas entre todos eles houve um que fez sempre o possível para me magoar mais que os outros. Aguentei firme!
Já estava na tesouraria do Banco de Portugal quando num dia de Janeiro de imensa gente e estando eu na Caixa a pagar e a receber, dei conta da presença daquele tipo que sempre fizera tudo para me enxovalhar para ser chamado.
Achei curioso a visão de alguém, sempre com a mania de ser mais esperto que todos os outros, numa fila para receber o seu dinheiro como... mero tarefeiro.
Direi apenas que não fui bem comportado também naquela tarde!
Cheguei ainda antes do almoço e o ar por aqui já queimava. Tórrido, seco com um vento suão a soprar que tudo seca.
Passeio pelas fazendas loiras de restolho após a erva cortada e enfardada. Os grilos cantam ao desafio com as cigarras e num muro cinzento e quente um lagarto olha-me quase com desdém! Percorro devagar o caminho que me leva às oliveiras de forma a perceber como estão de azeitona. Estala a erva seca, tisnada por este sol de Estio inclemente e quiçá duradouro.
Cães e gatos procuram sombras! Um burro deita-se no chão e espoja-se freneticamente tentando livrar-se da bicharada que o atenta. Um nuvem de pó é levada pela força do vento.
Bandos de pardais, piscos, cartaxos esvoaçam por cima da terra acabada de lavrar em busca de alimento.
O ar parece irrespirável e nem os traçadinhos de vinho e gasosas fresca na taberna fazem abrandar o calor.
A Beira Baixa e o seu calor quase doentio, mas que os naturais aguentam estoicamente.
Quando li a primeira vez o texto infra do escritor argentino Jorge Luis Borges fiquei atónito. Como se pode escrever tão pouco e dizer tanto?
Pudera... os verdadeiros escritores são assim.
THE UNENDING GIFT
Um pintor prometeu-nos um quadro. Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho. Pensei no homem e no quadro perdidos. (Só os deuses podem prometer, porque são imortais.) Pensei num lugar determinado que a tela não ocupará. Pensei depois: se lá estivesse, seria com o tempo essa coisa mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da minha casa; agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer cor e não ligada a ninguém. De algum modo, existe. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim. Obrigado, Jorge Larco. (Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo de imortal.)