Hoje recebi a visita de um amigo. Conhecemo-nos há mais de 40 anos, mas não obstante alguma diferença de idades (ele é mais velho do que eu 10 anos!!!), construímos uma boa e forte amizade.
Já estava a sair e a meter-se no carro quando me deseja:
- Tente ser feliz...
Devolvi:
- Mas eu sou feliz.
- É raro - responde.
- O que é raro?
- As pessoas assumirem que são felizes. Geralmente nunca o são.
- Mas eu sou, genuinamente.
Já não entrou no carro. Ficou ali a olhar para mim e a tentar entender como pude dizer aquilo. Percebi no seu olhar uma certa incerteza. Por fim conclui:
- Ainda bem...
Entrou no carro e partiu!
Certamente que a felicidade não é um estado de espírito que se compra numa qualquer farmácia e muito menos num supermercado, se bem que muita gente ache que por detrás de uma garrafa de alcool ou de uma qualquer droga encontrará o tal estado supremo. É um engano e não me canso de o afirmar.
Não tenho uma vara de condão para ficar feliz de um momento para o outro, como se tudo dependesse de um mero interruptor. Porque o ser feliz é, acima de tudo, uma construção que se faz interiormente. Como quando se constrói uma casa... inicia-se por baixo.
Reconheço que nem sempre fui assim, pois também tive os meus momentos menos simpáticos. Mas foi a própria vida que paulatinamente me foi ensinando o caminho ou no limite me mostrou as opções.
Poderia perfeitamente assumir um estado depressivo, angustiado (provavelmente teria muitos razões para isso), mas ao invés de me enfiar num pântano de tristeza tive a audácia de me agarrar aos poucos momentos bons e com eles fui construindo uma fortaleza interior que me defenderia mais tarde de algumas agruras.
Por isso hoje cheguei a este ponto da minha vida ciente de que muita da nossa felicidade está dentro de nós... Basta para isso encontrá-la.
Quando hoje pegamos num moderníssimo telemóvel para escutar a nossa música preferida, oriunda de uma qualquer aplicação, estamos muito longe de perceber ou sequer imaginar de como e quando tudo começou.
Dificilmente calculamos que tudo terá iniciado, provavelmente, com uma simples caixa de música inventada por um relojoeiro.
Desde esse tempo até hoje a evolução foi demasiado grande, de tal forma que temos alguma dificuldade em entender aquele passado.
Porém há um lugar único em Portugal onde podemos descobrir de que forma é que tudo, mais ou menos, começou.
Falo do recente Museu de Música Mecânica que foi inaugurado há somente três anos pelo actual Presidente da República e que apresenta um espólio riquíssimo com algumas peças únicas no mundo.
São muitas e diferentes as caixas de música que ali podemos observar.
Objectos fantásticos que fizeram a alegria de muita gente. Um Museu totalmente privado, situado numa região vinícola por excelência e que merece uma visita muito cuidada e atenta.
Trinta foram os anos que Luís Cangueiro levou a juntar as mais de 600 peças num acervo único, mas o privilégio de as observar e acima de as escutar é obviamente dos visitantes.
Há visitas guiadas feitas pelo proprietário e colecionador, mas requerem alguma marcação prévia.
Este é um daqueles Museus absolutamente imperdíveis!
Já passam das oito e meia da noite e desde as sete da manhã que não páro. Consegui agora fugir um pouco às azáfamas domésticas para vir aqui escrever este postal.
Diria que foi peciso chegar a esta idade para perceber o meu próprio e real valor. Receio, como já referi anteriormente, que um dia possa defraudar todos os meus amigos com alguma atitude menos feliz. Entretanto até lá... confiemos! Certo?
Hoje faço 61 anos e durante todo o dia o meu correio electrónico, o feicebuque, os sms, o telemóvel e essencialmente os meus blogues e afins não pararam de me bombardear (no melhor sentido da palavra!!!) com felicitações de aniversário.
Não tive prendas físicas. Mas recebi tanto carinho, tanta amizade, tanta ternura, tantas palavras bonitas que acabo o dia de coração repleto de uma alegria imensa. Só sentido... vocês nem imaginam!
Vejam lá que até a minha novel neta me brindou com uma chamada em directo via telemóvel onde a vi a mamar no seu biberon... Uma doçura.
Quero então, de uma forma sincera e frontal, como só assim sei viver, agradecer a todos, sem qualquer excepção, a forma tão carinhosa como me trataram neste meu dia.
Este foi uma jornada que, certamente, jamais esquecerei.
Levantei-me muito cedo. Eram pouco mais das seis da manhã. Mas tendo em conta a previsão daquilo que seria o meu dia, havia que despachar algumas etapas.
Estou na Beira Baixa. Num local abrigado pela Serra da Gardunha sempre tão devastada com os incêndios. Todavia ainda assim aqui respira-se bom ar, colhe-se boa azeitona (eu que o diga!!!), a fruta é de excelência e as couves têm um sabor a terra pura.
Gosto de deambuar pelos terrenos da família. Perceber algum pinheiro caído, um murro derrubado, algum silvado para cortar.
Sendo alguém que foi criado numa povoação onde a água era (e ainda é) um bem muito escasso, quando chego a esta povoação beirã e noto os poços repletos, as charcas cheias e as ribeiras a correr sinto-me imensamente feliz.
Depois... há aqueles ruídos que a natureza nos brinda, nos afaga, nos eternece; o trinados dos pássaros, a água que foge por entre as pedras num qualquer leito de uma ribeira, o coaxar harmonioso das rãs, o doce sibilar do vento por entre as árvores... ou então não e nada disto e a Mãe Natureza prefere o silêncio!
Há mais de quarenta anos escrevi uma breve e pobre crónica sobre um dia de futebol na cidade.
Um texto que hoje provavelmente não escreveria. Acima de tudo porque naquela altura disse no dealbar da crónica "... Uma correria louca, de muitas dezenas de homens de todas as idades e poucas mulheres..."
Hoje regressei ao futebol após algumas semanas de ausência. Saí por isso mais cedo do trabalho, fui buscar a minha mulher, dirigi-me para casa onde me vesti a preceito (sim, sim para ir ao futebol há que ter... farda apropriada!) e apanhei o Metropolitano.
Saí na estação de S. Sebastião onde mudei para a linha vermelha que me levou ao encontro da amarela que me carregou até perto do estádio. Tudo muito rápido. Quando cheguei a Alvalade subi as largas escadas e cruzei-me com diversos grupos de senhoras, todas brilhantemente identificadas com cachecóis verdes e cor-de-rosa, e que por ali conversavam em amena cavaqueira.
À entrada da porta B mais senhoras que também seriam sujeitas a revista. Já sentado no meu lugar passo os olhos ao meu redor tendo contado dezenas de "eternos femininos" numa altura que o estádio ainda estava quase vazio.
Gente de coragem, penso eu, já que arriscam-se a escutar um ror de expressões vernáculas muito próprias e comuns no futebol. A realidade trouxe-me estranhos epítetos aos jogadores e árbitros, proferidas por algumas das meninas presentes. Quem diria?