Durante os cinco dias que estive ausente no campo deu para pensar. E muito.
Revi a minha vida passada, tentei perceber o meu presente e acima de tudo receei pelo meu futuro.
A idade encarregar-se-á naturalmente de me colocar na reforma num futuro mais ou menos próximo. E esse será um momento quiçá estranho: num dia tenho de cumprir horários para no dia seguinte deixar de o fazer. Assim com um simples estalar de dedos.
No entanto não é esse tempo que receio, mas unicamente não ter o tempo suficiente para dar luz a alguns projectos, que vão enchendo a minha mente, antes de ir desta para melhor.
Jamais passarei de um escritor mediano para não dizer sofrível. Mas mesmo assim gostaria de deixar aos meus herdeiros um pequeno património, mais ou menos intelectual, e do qual todos se orgulhassem. Todavia para que isso aconteça necessito trabalhar muito mais na escrita. Não imagino sequer se terei oportunidade de o fazer.
Entre o passado já longínquo, onde assentam as minhas boas e más memórias e o futuro claramente incerto, reside o presente, o momento actual que vou desbravando com aquele sentimento de que a vida deve ser vivida cada hora, minuto e segundo sem quaisquer temores.
Esta não vai ser uma daquelas histórias que costumo publicar aqui (que como a Golimix diz acabam sempre mal). Ao invés esta é uma verdadeira (má) história de um antigo amigo meu. Digo antigo porque actualmente o melhor amigo dele é aquele que lhe pagar a última cerveja.
Mas vamos ao que importa…
Durante os últimos dias fugi da cidade e parti para a minha aldeia, que é tanto minha como de outra qualquer pessoa. A verdade é que foi naquela aldeia que nasceram os meus pais e onde fui realmente muito feliz.
Desse tempo guardo gratas recordações e muitos amigos. Entre eles o A.
Uma mão cheia de anos mais novo que eu, tivemos uma grande amizade que os anos, e não só, diluíram. Filho mais novo de uma das famílias mais pobres da aldeia, muito por culpa de um pai alcoólico e pouco trabalhador, com ele aprendi muitas coisas relacionadas com a vida do campo.
Mas a vida não lhe foi simpática e muito cedo teve que largar a escola onde não era grande aluno para procurar sustento.
Certo dia de Verão, quando o Sol queimava as pessoas e o ar, encontrei-o a caiar uma parede à torreira do astro rei. Admirado e condoído com aquele espectáculo perguntei-lhe:
- Ouve lá tens alguma necessidade de estares aí à hora de maior calor?
Parou, poisou a brocha e disse-me:
- O corpo não me ralo que sofra, quero é ter dinheiro no bolso.
Achei tão estranha aquela atitude que ainda hoje me intriga.
Entretanto o clube que hoje existe na aldeia é claramente o centro da vida social. Lá poderemos encontrar quase toda a gente. Geralmente às horas de descanso os homens ficam na rua falando sobre tudo e sobre nada e as senhoras lá dentro fazendo o mesmo.
O meu amigo A. é hoje um cliente assíduo. De manhã e depois do almoço para o costumado café, à tarde para… se embebedar.
Um destes dias já noite fui também ao clube rever outros amigos e família e naturalmente encontrei-o por lá. Profundamente alcoolizado. De tal forma que mal me conheceu.
Olhei-o de frente sem medo e percebi que A. tinha uma história de vida cruel e injusta. Da sua vida pessoal soube que chegou a casar para logo se separar, tendo desse relacionamento nascido uma filha que segundo descobri não quer saber do pai vai para muitos anos.
Vive num barraco com um dos irmãos, onde predomina o odor pestilento do gado caprino que ele cuida. Ou tenta cuidar.
Na tal noite percebi que no clube os utentes mal lhe falaram. Perguntei a um primo presente a razão do afastamento. A resposta veio assertiva:
- Tem mau vinho. Quando está bêbado ninguém, pode falar com ele. Sóbrio ainda vai…
Ainda estive para ir ter com ele, mas alguém me travou, abanando um redondo não. Ele estava numa ponta do balcão… eu na outra. A. está magro, não tem a maioria dos dentes, bebe em demasia, fuma alarvemente e tem o aspecto de ter idade para ser meu pai. Uma profunda miséria de homem.
Descobri da pior maneira que a minha vida, mesmo com algumas queixas, não é tão má quanto a dele.
Este meu amigo não merece… ninguém merece uma má história de vida.
Decididamente não entendo esta ideia de atentar contra a vida de outrém em nome de uma fé. Eu que também sou um homem de crença jamais seria capaz de matar alguém em nome de Deus.
Poder-se-á dizer que as Cruzadas medievais foram também uma forma de luta contra os infiéis. Mas eram outros tempos, outras civilizações e acima de tudo outras mentalidades. E desde essa altura até hoje já passaram centenas de anos…
Após o atentado de Londres o Estado Islâmico apressou-se a revindicar o acontecimento. É óbvio que não esperava outra coisa. Mas será possível ligar este ataque isolado à luta que o EI tem perpetrado pelo mundo fora? Duvido… Mesmo que arranjem muitas ligações cheira-me que isto foi mais um acto isolado e que houve lógico aproveitamento daquele Estado.
Vivemos num mundo estranho onde em nome dos mais elevados desejos de um povo ou nação se destroem milhares de vidas humanas, a maioria delas inocentes.
Não tenho uma solução para esta nova ordem Mundial, mas gostaria que os meus descendentes não viessem a sofrer por algo que nunca fizeram nem contribuíram.
Continua a saga na minha aldeia. Hoje a meio da tarde era impossível andar por lá, tal era a chuva. Constante, grossa e fria. Ainda aguentámos duas horas após o almoço, mas ao fim desse tempo tivemos de desistir. Totalmente impossível. Certo, certo é que com este tempo não há perigo de fogo, como aconteceu na última vez. Quando cheguei a casa parecia que havia saído do mar pois não havia peça de roupa que não estivesse encharcada. Tenho consciência que um dia vou pagar caro esta teima de andar a queimar à chuva, mas tenho de aproveitar enquanto posso. Já por aqui referi que prefiro a vida de campo à da cidade, todavia há momentos em que devia parar para pensar. Estes últimos dias não o fiz. Assim amanhã haverá mais.
Ontem tive um final de dia na cidade muuuuuuuuito complicado. Ao fim da tarde a família combinou um local para nos encontrarmos. Dirigi-me ao Metropolitano e logo ali antes de entrar eis que surge a primeira dificuldade. O meu cartão não tinha saldo suficiente. Fui a uma máquina e já no fim das operações apercebi-me que aquela máquina não aceitava dinheiro em notas, somente moedas ou cartões. Optei por outros equipamentos onde notei que todos tinham a entrada das notas tapadas com a sinalética “Avariado”. Lá coloquei o cartão e após ter carregado o dito entrei para seguir viagem. Já na plataforma onde apanhei a composição reparei que está indicado que o próximo comboio chegaria daí a 7 minutos e 50 segundos. Aguardei. Peguei no telemóvel e fui pesquisando os mails. Finalmente dei por mim a olhar novamente para o mostrador electrónico onde marcava 1 minuto e 30 segundos. Só que, pasme-se, esta indicação esteve naquele registo mais de 2 minutos. Percebi logo que havia coisa. De súbito o tempo de espera passa para 4, 50 e segundos depois para 9,40. A plataforma encheu-se de passageiros. Passou um comboio no sentido contrário. Finalmente apareceu uma carruagem puxando as outras. Já vem cheia. As portas abriram-se e um turbilhão penetra na carruagem. Começaram os apertos pois há muita gente na plataforma. Finalmente arrancou-se. Nem precisei de me segurar, são os outros que me envolveram que o fazem. Em cada paragem as portas abriram e fecharam diversas vezes tal era o fluxo de gente. Entre duas estações mais distantes, olhei à minha volta e absorvi os aromas que me rodeavam. À direita o cheiro horrível a lixívia de alguma senhora da limpeza, à esquerda uma outra senhora tomara banho num daqueles perfumes de qualidade duvidosa e deveras activo. Atrás alguém exalava um odor nauseabundo a tabaco. Um homem tresandava a álcool. A somar a todos estes perfumes “campestres” o aroma sempre inebriante da naftalina que nem percebi de onde vinha, mas que pairava naquele ambiente tão caloroso. Saí finalmente na estação devida. Esmagado e aliviado. Estou agora perfeitamente convicto e ciente da razão porque nunca gostei muito de andar de Metro.
Cada vez estou mais convencido que a 3ª Guerra Mundial é hoje uma dura realidade.
Se a história mais ou menos recente nos trouve milhões de vítimas mortais, não é menos verdade que as actuais formas de guerra não matarão tantas pessoas como as anteriores (mas provavelmente, nem isso), mas identificamos cada vez mais a morte de valores conquistados faz muito tempo.
Falo obviamente de algo como a liberdade, seja esta de ideias, religiões ou até sexual. Falo da liberadde de imprensa e de opinião. Falo de algo mais simples como é a liberdade de escolher.
Pode parecer estranho esta conversa, mas a forma como esta guerra de está a alargar (e alastrar) sem que ninguém a consiga deter, surge como pano de fundo de um Mundo que não sabe como lidar com as diferenças.
O terrorismo não é, por si só, a 3ª guerra, mas o detonador infeliz que coloca no coração de um qualquer ser humano um sentimento de medo profundo!
É esta bizarra evidência a verdadeira guerra. Durante séculos as armas bélicas ganharam e perderam conflitos. As batalhas antigas eram autênticos jogos de guerra onde os actuais programadores informáticos se inspiraram (e ainda insperam) para criarem as suas aventuras. Todavia as novas técnicas de luta colocam cada um de nós como arma única.
O sentimento de receio na insegurança, que cada vez mais vimos instalado nas nossas ruas, transportes ou empregos e principalmente nos nossos espíritos é a tal arma que não comprámos, que não desejamos mas que os nossos inimigos sabiamente usam contra nós.
Como combatê-la? Talvez com a coragem de não nos deixarmos atemorizar por qualquer acontecimento mais trágico. Se assumirmos o medo, estamos a entrar na guerra sem o sabermos, apresentando então os nossos inimigos mais confiança e mais sabedoria nestes novos conflitos.
Após a última (má) experiência, espero conseguir queimar toda a rama possível sem colocar em perigo as restantes árvores circundantes. Basta que se mantenha este tempo de chuva, mesmo que não seja abundante e permanente.
Só que desta vez vai ser a última e deste modo serão cinco dias quase completamente afastado da cidade. Durante este tempo, aconteça o que acontecer no Mundo, estarei pouco preocupado.
Temo no entanto não conseguir aguentar o ritmo desta vida campestre por muito mais tempo. Há diversos meses que não tenho um fim de semana daqueles... de paz, de sossego, de descanso semanal.
E o pior de tudo é que vou passar cinco dias sem internet. O que no meu caso é assaz deprimente.
Portanto e tendo em conta que não imagino se amanhã escrevo fiquem por cá bem... que eu vou ali cansar-me e já volto!
Ontem o meu infante mais novo chamou-me a atenção para algo que já ouvira milhentas vezes na rádio e que se prende com o tempo metereológico..
Entendo que os citadinos sejam eles de Lisboa, do Porto ou de "Bracara Augusta" não apreciem de todo a chuva e queiram sempre o sol. O que provavelmente não percebem ou não entendem é que a chuva não é por si só um mal mas um bem. As terras agrícolas vivem essencialmente da água que advém das chuvas ou de regas devidamente preparadas.
Sem a devida água nada se cria, nada cresce... tudo mirra. Daí fazer sol nem sempre é sinónimo de bom tempo.
Assim quando os lisboetas vão ao supermercado e consideram a fruta ou os legumes muito caros, olvidam o trabalho e os gastos inerentes à produção. É verdade que este tipo de chuva, que cai espaçadamenote em torrentes quase diluvianas, não é a melhor. Mas enquanto não há outra aceitemos esta.
O meu cebolo agradece assim como os feijões semeados o fim de semana passado. A flor da laranjeira e da amexeeira é que não gostaram do granizo de ontem à noite.
O tempo bom neste momento tem de ser de água e não de sol... O frio, esse é que poderia ser evitado.