Sai um homem da sua rotina e logo acontecem uma quantidades de casos.
Primeiro o "Panamapapers" que obviamente vai dar muita água pela barba, como soe dizer-se. Acresce mais recentemente o caso dos inspectores da judiciária envolvidos em crimes de corrupção e tráfico de droga para terminarmos no pedido recente ao FMI de assistência financeira, por parte de Angola.
Agora cabe-me a mim procurar saber mais detalhes destes acontecimentos, pois detesto andar desinformado.
Mas esta catadupa de notícias, enquanto estive mais ou menos afastado do mundo, é que não me parece justo.
Ainda cairam uns borrifos mas depressa desapareceram. A manhã finalmente surgiu em todo o seu esplendor. As orações, o terço, o silêncio, a eucaristia e finalmente as completas tornaram o meu dia mais recheado..
Muitos quilómetros palmilhados com muitas experiências trocadas. As sensações a crescerem e a tornarem-se a fonte de riqueza e de Misericórdia.
Para ser peregrino não basta só caminhar. É necessário disponibilidade para os outros. Dar e receber sem peso nem tamanho.
Dormi mal (e pouco) nessa noite. Mas que importa se estou ali para cumprir a vontade do Senhor e não a minha!
Ao fim de cinco dias a peregrinar até Fátima, que encheu o meu coração e a minha alma da Palavra de Deus, eis-me na segunda-feira passada lançado para uma cama de hospital para ser operado a duas hérnias.
Após a cirurgia e uma tarde e noite perfeitamente grogue devido à anestesia, acordo no dia seguinte cheio de fome. O que me trazem para comer (leia-se beber) é somente um chá, desconhecendo que detesto este líquido.
Não bebo nada. Finalmente aparece alguém que me pergunta se já comi. Respondo que só tinha chá para beber. Por fim vem uma carcaça que recheio com compota e que me sabe divinalmente.
Regressei ontem a casa, o que é sempre bom, mas recheado de dores e muuuuuutita imobilização. Um mero gesto, antes tão simples e corriqueiro, é agora acompanhado de grande sofrimento.
É assim a vida! Num dia estamos quase perfeitos para logo a seguir... nem por isso!
O caminho vai-se fazendo serenamente. A manhã do primeiro dia trouxera-nos algum frio mas sempre bom tempo. Porém a tarde toldou-se e logo após o terço, rezado em comunidades (a minha era “Caridosos”), começando a chover com intensidade.
Acabei por vestir uma capa impermeável tentando evitar que a água da chuva se impregnasse por toda a roupa e calçado. Em vão tal era força do vento.
Uma peregrina demonstrava estar muito debilitada, não só com os quilómetros já palmilhados mas devido à intempérie. Eu e um elemento da organização acabámos por arrastar a senhora até à paragem de reforço.
De volta ao caminho e à chuva acompanhámos mais peregrinos em evidentes dificuldades. Mas chegaram todos. E um banho bem quente ajudou a repor alguma energia.
Para primeiro dia de Peregrinação até quem nem correu mal. Não fosse a chuva… e essencialmente o vento.
Mas aprendeu-se muito. As dores e o cansaço são superados pelas palavras de alento que fomos lendo e ouvindo pelo caminho.
Chove lá fora, mas já dentro do saco-cama, agradeço a Deus ter-me deixado chegar ali.
Viver a Fé nem sempre é fácil. Especialmente nestes novos tempos em que tudo nos chega à mão e ao conhecimento à velocidade de um toque, num qualquer telemóvel ou equipamento semelhante.
Por isso este afastamento de uma vida quotidiana repleta de confortos parece não fazer muito sentido. Mas faz!
É necessário que o nosso coração se encha de Misericórdia de maneira a podermos olhar o Mundo de forma diferente. Mas para isso é forçoso que nos dediquemos totalmente a Deus, nem que seja por uns meros cinco dias.
Todas as peregrinações que já calcorri mostraram-me quanto poderemos fazer por nós próprios, pelos outros e pelo Mundo. E a deste ano, obviamente, também não fugiu a essa regra (quase) básica.
Venho destes dias sempre (muito) diferente daquela pessoa que partiu. Nunca saberei se para melhor ou pior. Mas claramente diferente. A Misericórdia de Deus também se vê nestes genuínos gestos.
Nada melhor que o amor para acabar esta já longa série, de uma espécie de desafios que eu trouxe para aqui.
Amar foi, é e será sempre muito importante na vida de um pacato cidadão. Quanto mais para um pobre de Cristo mais preocupado em sobreviver neste mundo tão árido de amor.
E neste amor envolvo não só as relações interpessoais, mas outrossim o amor a Deus, o amor aos nossos sonhos ou unicamente o amor à Natureza.
Portanto termino com um ensejo: que se ame muito, sim... e bem, também... mas acima de tudo que se ame... Simplesmente!