Esta chuva que ultimamente tem inundado os nossos dias e não só, surge como fenómeno anormal. Não pela época em si mas pela violência e quantidade com que cai.
Nunca atravessei para lá do Cabo de S.Vicente... minto já fui à Madeira que é mais ou menos a latitude de Marrocos. Mas jamais fui a África. Tudo o que sei do continente africano foi-me contado pelo meu pai, pelo que li e por relatos de outros que por lá viveram. Porém em todos os casos a forma como descrevem o tempo metereológico naquela região tropical do Globo assemelha-se muito ao que temos hoje em Portugal.
Chuvas abundantes, trovoadas tenebrosas e vento forte. Foge a esta semelhança somente a temperatura pois estamos muito acima do Equador. Ora se é certo que estamos muito longe da tal linha Equatorial, a verdade é cada vez mais as nossas tempestades parecem tropicais.
Dizem os mais velhos que antigamente principiava a chover em Outubro e só acabava para Abril. Mas era uma chuva certa, temperada por um Outono e um Inverno chuvoso e rigoroso mas sem ter este aspecto quase catastrófico.
Temo assim que estas transformações climáticas que ultimamente vamos observando não passem apenas de uma fase e se tornem permanentes.
Hoje a mui amiga BB voltou, no seu esplendido blogue, a referir-se a um texto aqui publicado.
A minha permanente busca em prol de melhor qualidade de vida (não necessariamente quantidade) levou-me a escrever aquele "post" como de um desabafo se tratasse.
Na realidade as diferenças de vivência do campo e da cidade são diametralmente opostas. Mas chamo já a atenção, para a ideia errada de que habitar numa aldeia será sempre melhor que viver numa urbe. Se assim acham, esqueçam lá isso.
Como já referi noutras prosas, a minha estada no campo não corresponde unicamente às flores e às paisagens verdes ou amarelas que vou fotografando e guardando na memória informática ou mesmo pessoal. O trabalho da terra é duro e poucos gostam de o fazer (cada vez menos!). Mas eu gosto!
Na cidade o cinema chama-nos para aquele filme ou o teatro acena-nos com uma nova peça. Na aldeia o divertimento maior passa pela melancolia de um regato em vertiginosa correria pelo tempo..
Verde foi o meu nascimento e de luto me vesti, começava assim a velha adivinha que quase todos conheciam. Para dar luz ao mundo mil tormentos padeci terminava então a tal lenga-lenga que escondia nas palavras a azeitona e o azeite.
Tal como prevê esta velha brincadeira a vida no campo é repleta de mil tormentos e muitos lutos. E muito poucos verdes…
O tempo é pouco. Trabalhar, dormir, comer, escrever, dar a atenção devida à família... tudo ocupa muitas horas. Por isso algumas leituras ficam para trás. Especialmente aqueles livros que eu já li faz muuuuuuito tempo.
Mas ainda assim não quero deixar de partilhar algumas obras fantásticas que adoraria um dia voltar a ler:
Há também quem os use para sair. E do governo. Foi o caso do Ministro da Administração Interna. E respectivos Secretários de Estado.
Provavelmente servirão para mudar alguma coisa, para que tudo fique na mesma. Falo obviamente da tal remodelação governamental que tantos solicitam e desejam.
Os Vistos Gold serviram outrossim de arma de arremesso contra o governo esgrimida pela oposição. E caiu um ministro... Imaginem se MM tem ficado, como pretendia PPC?
Agora mais a sério os nossos políticos roçam a pobreza franciscana. Diversas pessoas da Administração Pública são apanhadas numa rede de tráfico de influências (e não só) e o governo é que é culpado. Percebo que quando não se tem mais nada para dizer se digam baboseiras. Mas há um limite.
Já aqui critiquei por diversas vezes o actual governo pelos demasiados erros que tem vindo a cometer. Mas desta vez parece-me que a equipa de Passos Coelho está longe de ser culpada neste caso tão mediático.
Claramente que este tipo de acontecimentos favorece o PS, que antes que comece a cair nas intenções de voto pretende eleições antecipadas. E depois é o governo que está agarrado ao poder, como ouvi já esta noite. António Costa para além de ainda nada dizer sobre futuras medidas, se for governo e de ter voltado atrás no acordo sobre o IRC, está ainda a anos-luz daquilo que eu esperava de um lider da oposição. Donde concluo que Seguro não faria pior.
Decididamente os meus fins de semana têm muita coisa menos serem monótonos.
Desde ontem que quase não paro. E já fiz de quase tudo, um pouco!
Há trinta anos numas derivações das "Respostas a Proust" respondi que o que eu mais gostaria de fazer na vida era ter os fins de semana para descansar.
Hoje como ontem e três dezenas de anos depois continuo a pensar e a sentir o mesmo!
Se há coisa que gosto muito pouco é de estar doente. Mas sentir-me doente então muito menos.
À primeira vista pode parecer o mesmo, só que não é! De todo!
Posso estar constipado, andar engripado com tosse e febre, o corpo a doer como se tivesse sido atropelado por um camião, que não me importo. Não aprecio é certo, mas é a menor da minhas preocupações.
Pior mesmo é...sentir-me doente.
É uma sensação estranha, como se um poder oculto tomasse conta do meu corpo e da minha mente. Tenho a lucidez suficiente para perceber que tudo isto não passam de anormais reacções psicológicas a vivências que não controlo.
A verdade é que desde que regressei da aldeia, no passao fim-de-semana, um mal estar permanente apoderou-se de mim e sinto-me doente.
Normalmente não sou piegas. Se tenho uma dor real aceito-a com estoicismo e coragem. Agora este padecimento corrosivo que tomou conta de mim é por demais doloroso.
Já referi neste espaço que ela é a verdadeira dona da casa e que tudo roda à sua volta.
O carinho que todos lá em casa lhe devotam é retribuído através de um ladrar doce ou uma lambidela.
A Lupi é uma simples cadela.
De facto ela é somente um animal. Todavia o seu instinto, a remontar ao selvagem, surgiu esta semana mas apenas hoje revelado.
Um queijo curado ficou ao ar livre após ter sido indevidamente baptizado com a água da chuva. Descuidadamente ficou ao alcance da "menina" Lupi.
A verdade é que durante dias procurei, em vão, pelo queijo.
Mas só hoje o mistério foi revelado após se ter descoberto na sua casota os "restos" do que fora um queijo. Curiosamente esses nacos semi comidos estavam envoltos em alguma terra.
Foi nessa altura que se percebeu o que havia acontecido: de barriga cheia a cadela não quis perder a oportunidade de ferrar o dente num belo queijo Beirão. Assim raptou-o e cavando um buraco na terra do jardim lá deixou o acepipe para mais tarde... comer.
O verdadeiro instinto animal veio ao de cima! Perfeitamente normal pois ela não passa de uma cadela.
A ideia do início do Verão de me obrigar a escrever, em média, um texto por dia, para aqui publicar também não foi das melhores.
Se por vezes as ideias saltam à frente dos meus pés como água em dias de chuva, há alturas em que me dá uma secura quase saariana.
Não sei encontrar e também não as procuro as verdadeiras razões para andar assim. Acredito todavia que seja passageiro este momento de algum mutismo. Sinto-me amorfo, triste por dentro, de alma amarrotada pelos dias que passam por mim como água debaixo da ponte.
Talvez a saída do meu filho varão para ir viver a sua vida tenha deixado mais marcas do que pensava. Ou talvez seja somente uma crise da meia idade… Ou não é nada disso!
Sei que não posso emendar o passado, mas entendo agora que muitas das asneiras que cometi na juventude estou agora a pagá-las. E com juros muito altos.
Todos os anos se repete este sentimento de perda. Ou de angústia do regresso.
Voltar à cidade não me traz a alegria, nem a pujança para enfrentar os novos dias. Reconheço cada vez mais em mim aquela tendência para sair deste reboliço e procurar nas encostas serranas o meu destino final.
A semana passou célere. Dia atrás de dia, jornada a seguir a outra jornada e o retorno enfim consumado. Não me conformo com esta vida feita de pressas e sem nenhum vagar.
Na aldeia um rebanho atravessa a estrada, o pequeno tractor mantém a baixa velocidade, o ti'Manel encostou-se á enxada e dá dois dedos de conversa com o Ti'Albino. Ninguém sabe do que falam, mas imagina-se...
A chuva trouxe uma paisagem plumbea mas ainda assim serena. O ar frio da manhã custa respirar de tão puro. Os cães ladram ao longe. Paira no ar um odor a lareira. E quando a lua regressa é aquela luz que me guia.
Agora na cidade cerro os olhos e revejo-me lá naquela aldeia serrana apaziguando as minhas fúrias citadinas. E cai das mãos a pergunta:
- Ainda faltará muito para regressar à aldeia? Definitivamente!