A tristeza duma noite!
Jamais pensei em escrever o que se segue. Mas a vida dá (tantas) voltas e eu, já com a idade que tenho, estou sempre a receber novas lições.
Raramente vejo noticiários. Sei que o mundo anda sempre em convulsão, não necessito de maior histerismo verbal.
Só que hoje enquanto jantava surgiu uma reportagem sobre um homem, antigo jornalista atirado para os buracos mais obscuros da rua. A determinada altura pareceu-me conhecer a voz do sem-abrigo que nunca mostrou a cara.
Sim, aquela voz... eu conhecia-a!
Eu já falara com aquele homem!
A minha atenção ficou presa naquela figura. Escutei toda a reportagem e mesmo de perfil acabei por conhecê-lo.
O meu amigo António.
Há quanto tempo que não sabia dele. E soube-o hoje e da pior maneira possível.
Como pode um ser humano chegar tão fundo? Não consegui evitar uma lágrima que teimosamente rolou, por entre memórias de jantares, escritas e longos passeios que ambos fizemos.
O tempo passa realmente demasiado depressa. E devora-nos!