Quando entrei no mercado de trabalho fui obrigado a descontar do meu rendimento determinado valor, que seria para a minha futura reforma. E todos os meses, durante trinta e tal anos, assim tem sido feito.
Isto tem-se passado comigo e com todos os trabalhadores deste triste País. E a única certeza é que quando chegarmos à hora da reforma o Estado tem esse dinheiro guardado para mensalmente me ir entregando até… morrer!
Puro engano!
O que era verdade há uns anos hoje não passa de uma utopia. O Estado abarbatou-se com parte do meu vencimento e quando pretendo o retorno eis que o mesmo Estado se nega a dar o que eu “não voluntariamente” descontei, alterando assim as regras do jogo.
Mas o que atrás descrevo não é nada que não se saiba ou se sinta já. Todos temos sofrido na carteira esta form(ul)a sui generis de nos roubarem o dinheiro… Porque é de um roubo descarado que se trata, digam o que disserem!
Ora então dei por mim a pensar…
1 - Se o Estado não paga as reformas conforme foram previamente acordadas e ninguém o leva preso (havia de ser giro!), porque não rasga o Estado os acordos com as tão conhecidas e sorvedoras de dinheiros PPP’s?
2 - Se o Governo tem coragem de deixar crianças irem para a escola com fome por os pais se encontrarem desempregados, ou outrossim olvidar os idosos que durante tantos anos trabalharam e descontaram, para agora cortarem nas suas míseras reformas, como não tem a mesma coragem para perante as PPP’s fazer o mesmo?
3 - Se o Estado tem intenção de cortar subsídios de férias e Natal a públicos e privados, porque não corta nos dinheiros para TODAS as Fundações, sejam elas de carácter for?
São provavelmente muitos “ses”. Demasiadas condições para um país à beira de um colapso colectivo e com um Governo incapaz de optar por atitudes realmente corajosas e radicais a bem do seu povo, que foi quem o elegeu. Não a MerkelTroika!
Uns economistas afirmam a pés juntos que o nosso país não vai cumprir nenhum dos deficits previstos para 2012, 2013 e 2014.
Outros asseguram que é difícil mas com tenacidade e muuuuuuuuita austeridade, consegue-se.
Há também quem defenda, vai para muito tempo, que Portugal devia sair do euro.
Pode-se então concluir que há opiniões para todos os gostos e desejos. E provavelmente todos terão não toda mas alguma razão para o que profetizam.
Seguramente que cada um omitiu a sua opinião assente em dados e estudos reais, mas tal como as diversas seitas religiosas ao leram a Bíblia Sagrada, cada um interpreta os números à luz das suas próprias convicções.
Sobra então o Dr. Medina Carreira, que durante muitos anos e em diferentes programas e escritos avisou do que poderia acontecer com Portugal, se se mantivessem os gastos do Estado. Muitos pensaram que era mais um arauto da desgraça, como muitos o apelidaram.
Hoje, ouvem-no já com outra atenção e começam a entender onde é que se encontra o mal do nosso País. Há mesmo assim, quem não aprecie aquele seu jeito um tanto frontal de dizer as coisas, mas a verdade é que as pessoas menos esclarecidas percebem o que ele pretende dizer.
Pois é... Mas devia ser o governo a falar desta maneira, simples e esclarecedora.
… que ontem na manifestação defronte do Palácio de S. Bento, a Polícia tenha quebrado indiscriminadamente uma quantidade de IPhones, Ipods, Blackberry’s ou Galaxys (passe a publicidade!).
Andaram os jovens a incomodar pai e mãe, avô e avó, tio e tia para terem um aparelho daqueles e vem um agente da autoridade armado de bastão, nada maleável por sinal, e dá cabo de um parque telefónico considerável.
"Esta crise está obrigatoriamente a reeducar a nossa população."
Dito assim de chofre, a conclusão pareceu-me descabida e desprovida de sentido. Mas curiosamente não caiu em saco roto… Durante dias fiquei a matutar nas palavras tentando dar-lhes um sentido mais lógico e coerente.
A acrescentar a esta minha confusão ouvi outrem concluir que a actual juventude portuguesa nunca fora sujeita a grandes sacrifícios.
Foi então que associei estes dois nacos de prosas e as juntei como peças de um só puzzle. Percebi então o verdadeiro sentido das duas frases. E constato com enorme pesar que ambas referem uma nova realidade para a qual a nossa sociedade não se encontrava preparada quanto mais educada.
Não quero com isto dizer que concorde com a filosofia de uma sardinha para três como sempre ouvi falar aos meus pais e avós… mas admito que agora são três sardinhas para uma só pessoa… (se não forem mais!).
Por isso hoje, grande parte dos jovens não sabem o que são sacrifícios. Tudo lhes é apresentado sem exigência nem esforço. Assumimos que as crianças não são culpadas por virem ao mundo (o que até é verdade!) e há que lhes fornecer tudo do bom e do melhor sem pedir nada em troca. E para que tudo isso aconteça empenhamo-nos até ao máximo que a nossa carteira pode fornecer hipotecando outros futuros.
E as crianças crescem e tornam-se adultos, despreocupadas com os seus futuros, porque assim foram educadas. Assumiram que ao Estado tudo cabia conceder e resolver.
Só que… aconteceu o inevitável: Portugal, assim como outros países periféricos do Centro da Europa, acabaram por vir a sofrer com as politicas despesistas e sem controlo por partes de diversos governos, mais preocupados com os interesses partidários, do que com a gestão pensada e correcta de um país já por si só pobre e sem quaisquer recursos com os quais partilhe riqueza pela restante população.
Voltamos desta forma ao âmago desta minha reflexão: “é premente reeducar este povo”.
Para tal não basta só cortar em vencimentos e subsídios dos trabalhadores. Há que cortar no Estado e nas suas tão conhecidas "gorduras". Mas cortar mesmo, sem receios nem subterfúgios. Cabe ao Estado dar o exemplo para que o povo aceite o que aquele lhe quer impor.
Não devem ser sempre os mesmos a arcar com as responsabilidades de antigas (más) gestões governativas. E deve-se exigir contas a quem durante muitos anos apenas se preocupou com uma coisa:
Após 10 dias de ausência em terras Beirãs eis-me de regresso à grande cidade… Infelizmente!
A infelicidade não se encontra no regresso per se, mas nesta urbe que me “trabalha” no estômago. E mal cheguei quero já retornar à aldeia onde passei estes últimos tempos.
Lá não há passadeiras e ninguém é atropelado.
Lá não há sinais luminosos e ninguém bate no carro da frente.
Lá não há rotundas em cada cruzamento e todos sabem o que é a prioridade rodoviária.
Lá não se apita porque nos distraímos a olhar para algo fora do carro, mas apenas para convidar o vizinho a beber:
- Vai uma mini? Pago eu…
Enfim uma vida serena feita ao ritmo dos dias calmos trazidos pela brisa da serra, outrora vestida de pinhais que o fogo voraz devorou, faz tempo.
Entre dias de chuva miudinha e outros de frio cortante foram boas, ainda assim. estas férias.
Aqueceu-me a alma a jeropiga, doce e apaladada, que fui beberricando e acompanhando as castanhas assadas na lareira bem quente.
Saboreei o queijo fresco acabado de fazer. Ou uns frades cozinhados com arroz, Ou as couves brancas e o vinho tinto...
A cidade, com o seu reboliço permanente, não me convence a ficar. As serras eternizadas nas pedras graníticas clamam cada vez mais por mim.
E eu desejoso de lhes oferecer uma resposta definitiva:
A resposta era outrora rápida e quiçá fácil. Hoje, porém, é bem mais difícil obter a solução para a dita adivinha, pois a luz do mundo já não vem dali.
A azeitona foi durante muitos anos a forma mais simples de se obter iluminação através das candeias. Ainda me lembro da minha avó acender o pavio desse tão singelo e típico candeeiro.
Nestes últimos dias tenho andado a apanhar azeitona ainda de uma forma quase arcaica. Há já quem use máquinas mas eu ainda prefiro a forma antiga de “arrepanhar”.
A chuva tem sido minha companheira. Assim como o frio e a aguardente ou jeropiga que vou beberricando com cuidado, não vá por causa de copito a mais, cair de uma escada.
Adoro este tempo de azeitona mesmo com chuva. E com frio…
Há nestes momentos únicos, uma ligação ancestral entre a terra fecunda e o homem.
E quando finalmente após os tormentos do lagar, o azeite escorre por entre as batatas e as couves, temperando-as sinto com alguma alegria e porventura algum orgulho que valeu a pena o sacrifício.
E melhor…
Nem todos conseguem perceber este sentimento tão rústico mas ao mesmo tempo tão genuíno.
Retirado para um vale da serra da Gardunha, aqui vou desenrolando dias e pensamentos, entre oliveiras carregadas de azeitona e outras sem nada para oferecer ao patrão que não seja uns trochos de lenha para aquecer as noites frias que se avizinham.
A chuva fez a sua aparição tão cedo e de forma tão persistente, que ainda escorre a roupa desses dias em que permanecemos completamente encharcados. Uma sina que se repete anos após ano.
Mas se há algo que gosto da época da azeitona (para além das castanhas e da boa jeropiga) é o poder ver os campos de uma altura menos comum. Tão próximo mas ao mesmo tempo tão distante. O verde vivo da erva a crescer misturado com os castanhos de um Outono em plena força fazem-me sentir quase nostálgico.