Ando longe da minha escrita. O meu livro vai vadiando pelas ruas das cidades a coberto de uma pasta. Escondeu-se ali vai para umas semanas e não quer sair nem por nada. Anda triste, ligo-lhe pouco. è evidente que ele requer mais atenção, mas neste momento ando longe de ser capaz de lhe dispensar tempo. A minha cabeça anda noutros mundos, noutros projectos (ainda não acabei este e já estou a pensar em outras coisas). Gostava de lhe dedicar mais atenção como ele merece mas sinto que estou longe desse tributo.
A morte prematura aos 50 anos do famosíssimo cantor pop não me espantou. Ele é um mau exemplo do que a indústria discográfica constrói, usa e depois deita fora. Suportando-se na belíssima voz e num espectáculo cénico admirável MJ tornou-se um ícone para a juventude. Hoje apenas servia para alimentar advogados, incapazes de o resguardarem dos jornais e das televisões que se alimentavam da sua pessoa, quais abutres, essencialmente agora pelos piores motivos.
O grande problema destas figuras é que se rodeiam de elementos que apenas os instigam a tornarem-se invulgares, como isso fosse o mais importante. MJ não necessitava de ter feito as operações para ficar branco. Nem tinha necessidade de viver numa câmara onde o oxigénio era quase puro e sem raios solares.
MJ bastava ter tido consciencia da sua voz porque ela sim era invulgar e colocava-nos naqueles longícuos anos 80 a dançar mal se ouvia a voz dele a cantar.
Tenho saudades desses tempos, mas terei muito mais saudades do MJ que cantava Billy Jean duma forma maravilhosa.
Podem chamar aos ingleses o que quiserem: arrogantes, fleumáticos, frios... enfim. Porém eles demonstram em pequenas coisas uma postura fantástica, de pessoas com uma visão mais abrangente e menos mesquinha.
Tem este preambulo ligação directa com o concurso "Britan's got Talent". Surgiu em Abril passado no Youtube a actuação de Susan Boyle, uma mulher vinda das profundezas da Escócia. De formosura e beleza duvidosa porém pura e sincera, esta "senhora" empurrou todos (ou quase todos) que a viam para o mais profundo do seus lugares. Da sua boca a música saía como água da fonte. Foi um momento inesquecível!
Hoje lembrei-me uma vez mais dessa senhora e procurei novidades. Vi a meia-final onde a escocesa cantou o tema "Memory" do musical Cats. Nova ovação com a sala rendida àquela belissíma voz. Mas o que mais me surpreendeu foi a opinião de um dos júris do concurso e que dá pelo nome de Simon. Este tem um ar bravo, sempre disposto a não perdoar qualquer falha, mesmo ao estilo britanico. Mas deste homem ouvi publicamente e ainda antes de dar a sua opinião sobre a actuação de Susan Boyle, um pedido de desculpas pela forma como ele a tinha tratado na primeira vez que a senhora tinha actuado perante aquele publico. E pareceu-me que foi sincero e coerente.
Este tipo de atitude só enobrece quem a tem. Em Portugal dificilmente veríamos tal coisa.
Chama-se a isto cidadania e urbanidade. Passa para além da educação e formação. Algo que em Portugal é impensável ver-se e muito menos num programa em directo com milhões a assistir.
O Verão está aí a chegar. Com ele regressam as férias, os dias longos, o calor. Os políticos amenizam-se nas críticas ao governo e a outros da sua igualha, As contestações esmorecem, as telenovelas acabam, o futebol vai para defeso, as escolas quae que encerram, enfim até Setembro o país quase que pára.
Vão ser três meses em que passamos a viver a meio gás. Ligamos para qualquer instituição para resolver um problema e respondem-nos de lá:
"- O senhor Fulano está de férias. Só ele é que pode resolver esse problema."
É evidente que no mês seguinte somos nós que vamos de férias e assim o problema fica adiado até depois do Verão.
Este é um país que trabalha 9 meses, apenas.
Assim, a crise que em Portugal sempre existiu (não foi o ano passado que ela começou), viverá neste rectangulo como muito bem gosta. No meio da desorganização, do desvario e da incompetência. Só gostava de perceber quem é que ganha com esta atritude tão irresponsável dum país tão pequeno mas sempre colocado em bicos dos pés tentando chegar a um nível onde outros países já não estão...