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Regressei, este ano, uma vez mais à estrada, para uma peregrinação a pé até Fátima. Cinco dias e perto de 150 quilómetros devorados por quase 100 peregrinos. Pensei este ano, a exemplo do que havia feito o ano passado, criar um breve diário desta caminhada e aqui apresentá-lo. Mas como não gosto de me repetir, vou apenas relatar em breves palavras as sensações que senti durante esta longa jornada.
Todos estes dias são realmente diferentes uns dos outros. Não é só a paisagem envolvente por onde passei, e que se vai alterando que é muito bonita, mas eu mesmo vou-me lentamente modificando. As orações, a eucaristia e acima de tudo os silêncios trouxeram-me momentos muito importantes com leituras e reflexões que me colocaram numa posição muito ambígua. Se por um lado lia e analisava os textos e sentia que ali estava a verdade, por outro, reflectia como tudo o que me rodeava em termos da minha vida se tornava tão superficial e fútil mas sentindo-me claramente impotente para lutar. Os fins do dia traziam-me finalmente algum repouso físico mas no meu espírito morava uma profunda tristeza.
Os dias concorriam uns com os outros em cansaço e dúvidas permanentes. Havia algo que pairava no ar, como de uma nuvem se tratasse, e me envolvia, me repelia e acariciava ao mesmo tempo. Foram momentos únicos, de sensações jamais sentidas. Desejava, como dizia o Padre Jorge, alimentar o cão bom e deixar que o mau minguasse à fome. Mas a dúvida subsistia! Qual deles, que me devorava as entranhas, seria o cão bom e o cão mau?
Só no final da longa jornada é que consegui realmente descobrir a diferença. Junto à Capela das Aparições uma torrente de emoções acabou por lavar o resto das tristezas e das amarguras da minha alma deixando-me pronto para descobrir o animal bom.
Entretanto Deus, através dos belíssimos textos de S. Paulo, colocou-me outras questões, às quais fui respondendo como podia e sabia, convicto de que dizia a verdade.
Mas o manual da caridade que pude ler no roteiro deixou-me então perplexo e sem pinga de sangue. Um sem número de princípios surgiam ali assim, como água fresca brotando do chão e para os quais eu não estava preparado. Novamente uma dúvida a assolar todo o meu ser: seria eu capaz de assumir todos aqueles mandamentos?
A pergunta ficou cravada no meu coração como uma farpa. Provavelmente só daqui a uns tempos serei capaz de responder. Porém e até lá, vou alimentando o meu novo cachorro.
Até já lhe dei um nome. Chama-se Esperança…
Será que Ele gosta do nome?
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