A vida e a morte foram, desde sempre, temas muito sensíveis e discutidos, geralmente com conclusões tão diferentes, que quem as lê fica com a sensação de que todos (ou nenhuns) têm razão naquilo que afirmam. Hoje é a minha vez de opinar sobre algo que todos sabemos o que é mas evitamos falar, como se falar da morte nos tirasse tempo de vida.
A vida é para ser vivida cada segundo, cada minuto, cada hora, com a alegria de uma dádiva que Deus nos dá. E a morte não deve ser tida como o fim de tudo mas apenas o início de um outro caminho, naturalmente diferente mas partilhado por todos, seja qual for a sua condição.
Trago este tema a lume, porque há bem pouco tempo assisti à morte de alguém muito querido. E a sensação com que fiquei na altura não foi de tristeza, mas sim de algum alívio, porque percebi que partir para essa viagem nada tem de doloroso bem pelo contrário.
Quando nascemos a vida vai-nos dando sinais. E nós, se formos minimamente inteligentes vamos aproveitando as lições de vida para a vivermos duma forma mais feliz. Porque sabemos de antemão que a morte está sempre certa. Não sabemos quando nem de que forma, mas temos perfeita consciência dessa partida.
Ora quero com isto dizer, que este meu amigo, que faleceu no passado mês de Outubro foi um homem feliz. E partiu em paz (o que nos dias de hoje, não é frequente, para não dizer raro). A poucas horas de perecer, este companheiro teve para comigo um gesto de despedida. Deitado no leito conseguiu levantar o braço e envolver-me nesse abraço, sem qualquer palavra, apenas como se quisesse dizer: Obrigado!
Quando o vi partir rodeado de todos quantos o amaram e de por quem ele nutria profundo carinho e ternura, achei que morrer assim só podia ser obra de Deus. Era também desta maneira que eu gostava de abalar. Serenamente como uma vela à qual se acaba o pavio. Pacificamente como a brisa leve dum fim de tarde, em pleno Verão.
A vida vivida com paixão e ardor, passou para a história dos que cá ficaram ainda e que com ele conviveram e partilharam essas emoções. As alegrias e as tristezas por ele sentidas são agora meras recordações desse velho baú que é a alma humana.
A morte assim faz realmente sentido. Não chorei, não carpi daquelas mágoas dilacerantes quantas vezes usadas na morte de alguém querido. Sinto falta dele, isso sinto. Era um companheiro e aprendi muito com ele. Mas também sei que neste momento, lá onde estiver, olhará e velará por mim até que um dia lhe vá fazer também companhia.
A doença que o vitimou não foi só um teste à sua capacidade de aceitar aquilo que Deus lhe deu, mas uma prova partilhada por todos quantos com ele viveram os seus derradeiros dias. Nada lhe faltou, companhia, ternura, carinho, solidariedade e acima de tudo amor. Mas amor sem contrapartidas daquele que se dá sem pedir nada em troca. O mais belo de todos…
Este texto é uma homenagem singela, se bem que póstuma, a um Homem, que na sua vida, no infortúnio e na riqueza, na tristeza e na alegria e finalmente na morte, soube ser sempre digno e corajoso.