De Natal em Natal
Não tenho boas lembranças dos Natais da minha infância. Mais… foi durante a minha meninice e por esta quadra que sofri a minha primeira enorme decepção de vida.
Naquele tempo não havia Pai Natal, só o Menino Jesus. E sem bem que nunca tenha percebido como é que aquela Santa personagem conseguia estar em todo o lado ao mesmo tempo, a verdade é que respeitava e admirava a figura mais frágil do presépio. Só que naquela noite as coisas correram realmente tão mal que acabaram por me desvendar o mistério de quem era o Menino Jesus, tentando dessa forma minimizar estragos. Todavia o choque da revelação foi tão grande que só me refiz totalmente do trauma quando já tinha filhos.
Durante os anos seguintes e que mearam entre estes tristes acontecimentos e o nascimento do meu filho varão, olhei normalmente para o Natal com alguma apreensão e acima de tudo com natural desprendimento.
Mas a vida é fértil em ensinamentos e rapidamente entendi que o Natal teria de ser algo deveras diferente, para melhor, do que fora enquanto menino. E os sorrisos e olhares dos meus filhos perante a árvore de Natal culminando nos tão brilhantes presentes, constituíram um capital de ganho dificilmente substituíveis.
E hoje?
Hoje o meu Natal significa essencialmente estar perto da família. Ascendentes e descendentes como companhia, risos e conversas em cada ano renovadas. Acepipes sempre apetecíveis e a reclamar prova.
Hoje o meu Natal é paz e uma serenidade perante o futuro cada vez mais incerto.
Hoje o meu Natal é lembrar-me que nesta época há quem nada tenha para comer e ninguém com quem celebrar.
Hoje o meu Natal é não esquecer os que estão doentes ou desempregados.
Hoje o meu Natal é descobrir em cada ser humano uma fonte de esperança num mundo melhor.
Hoje o meu Natal é um presépio onde não há nenhum menino nas palhinhas deitado, apenas um homem sentado numa velha pedra, aguardando pacientemente que do céu surja uma estrela que lhe ilumine o caminho.