A minha prima Isilda
Descobri faz algum tempo um talento numa prima, Isilda de seu nome: o de escrever poesias.
Nasceu numa pequena aldeia, de nome estranho: Covão do Feto.
Aprendeu a ler e a escrever sim, mas cedo partiu para a fábrica para trabalhar e ganhar o seu sustento. Um dia, porém, decidiu procurar sorte em França. E para lá partiu onde já se encontrava um irmão.
Casou em terras gaulesas também com um imigrante luso e lá nasceram os seus dois filhos. Regressou à aldeia que a viu nascer e por cá foi refazendo a vida.
A Isilda é mulher de resposta sempre pronta. Obstinada, tem até nos seus dizeres alguma graça.
Contou-me ela que certo dia vindo da loja, aflita com os pés, por causa do reumático que a atacava, passou por um aldeão inválido, sentado na cadeira donde nunca saía, na frente da casa. O doente vendo a minha prima arrastando os pés, perguntou-lhe em tom de gozo:
- Vens do Manel Ferrador?
Isilda aproximou-se e observou, tentando perceber se ouvira bem a questão:
- Diga lá senhor Zé, o que me quer?
Ele insistiu:
- Vens do Manel Ferrador?
Furibunda com a pergunta, logo respondeu a preceito:
- Venho, venho! E sabe o que ele me disse?
- Eu não…
- Que há muito tempo que vossemecê não vai lá para ser ferrado!
O velho calou-se, engoliu em seco e deixou a mulher seguir o seu caminho.
É desta fibra que a minha prima Isilda é feita.
No dia em que fez 64 anos aceitou que eu abrisse um blogue em seu nome, onde vou colocando as suas poesias, tão simples mas ao mesmo tempo tão genuínas.
Aqui fica o seu endereço: http://obloguedaisilda.blogs.sapo.pt/
Visitem, leiam e divirtam-se!