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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

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Uma (má) história de vida

Esta não vai ser uma daquelas histórias que costumo publicar aqui (que como a Golimix diz acabam sempre mal). Ao invés esta é uma verdadeira (má) história de um antigo amigo meu. Digo antigo porque actualmente o melhor amigo dele é aquele que lhe pagar a última cerveja.

Mas vamos ao que importa…

Durante os últimos dias fugi da cidade e parti para a minha aldeia, que é tanto minha como de outra qualquer pessoa. A verdade é que foi naquela aldeia que nasceram os meus pais e onde fui realmente muito feliz.

Desse tempo guardo gratas recordações e muitos amigos. Entre eles o A.

Uma mão cheia de anos mais novo que eu, tivemos uma grande amizade que os anos, e não só, diluíram. Filho mais novo de uma das famílias mais pobres da aldeia, muito por culpa de um pai alcoólico e pouco trabalhador, com ele aprendi muitas coisas relacionadas com a vida do campo.

Mas a vida não lhe foi simpática e muito cedo teve que largar a escola onde não era grande aluno para procurar sustento.

Certo dia de Verão, quando o Sol queimava as pessoas e o ar, encontrei-o a caiar uma parede à torreira do astro rei. Admirado e condoído com aquele espectáculo perguntei-lhe:

- Ouve lá tens alguma necessidade de estares aí à hora de maior calor?

Parou, poisou a brocha e disse-me:

- O corpo não me ralo que sofra, quero é ter dinheiro no bolso.

Achei tão estranha aquela atitude que ainda hoje me intriga.

Entretanto o clube que hoje existe na aldeia é claramente o centro da vida social. Lá poderemos encontrar quase toda a gente. Geralmente às horas de descanso os homens ficam na rua falando sobre tudo e sobre nada e as senhoras lá dentro fazendo o mesmo.

O meu amigo A. é hoje um cliente assíduo. De manhã e depois do almoço para o costumado café, à tarde para… se embebedar.

Um destes dias já noite fui também ao clube rever outros amigos e família e naturalmente encontrei-o por lá. Profundamente alcoolizado. De tal forma que mal me conheceu.

Olhei-o de frente sem medo e percebi que A. tinha uma história de vida cruel e injusta. Da sua vida pessoal soube que chegou a casar para logo se separar, tendo desse relacionamento nascido uma filha que segundo descobri não quer saber do pai vai para muitos anos.

Vive num barraco com um dos irmãos, onde predomina o odor pestilento do gado caprino que ele cuida. Ou tenta cuidar.

Na tal noite percebi que no clube os utentes mal lhe falaram. Perguntei a um primo presente a razão do afastamento. A resposta veio assertiva:

- Tem mau vinho. Quando está bêbado ninguém, pode falar com ele. Sóbrio ainda vai…

Ainda estive para ir ter com ele, mas alguém me travou, abanando um redondo não. Ele estava numa ponta do balcão… eu na outra. A. está magro, não tem a maioria dos dentes, bebe em demasia, fuma alarvemente e tem o aspecto de ter idade para ser meu pai. Uma profunda miséria de homem.

Descobri da pior maneira que a minha vida, mesmo com algumas queixas, não é tão má quanto a dele.

Este meu amigo não merece… ninguém merece uma má história de vida.

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