Faz por esta altura meio século desde que comecei a trabalhar. Tinha 14 anos, andava na escola e acabara de chumbar, o que hoje será o oitavo ano de escolaridade.
Durante o ano lectivo e perante as más notas que iam aparecendo o meu pai foi-me ameaçando de na eventualidade de perder o ano, teria de ir em busca de trabalho. No final do terceiro período estava reprovado e fui logo no dia seguinte em busca de algo para fazer.
Acabei por ir parar a um café que abrira recentemente no centro do jardim da Cova da Piedade e onde fiquei dois longuíssimos dias simplesmente... a lavar loiça. Depois o meu pai acabou por me retirar de lá já que os horários eram demasiado longos. Num dos dias entrei às sete da manhã e saí já passava da uma da madrugada.
Todavia, por aqueles dois dias de trabalho recebi... 80 escudos ou 40 cêntimos no dinheiro actual!
Quando por vezes me recordo desse dinheiro ganho, como aconteceu hoje, pergunto-me: a quanto poderá corresponder hoje aqueles 80 escudos?
Em conversa com uma senhora amiga, acabei por lhe formular uma questão que no fundo estava a fazer a mim mesmo: Porque será que tudo aquilo que gosto me faz mal? E acrescento agora: ou me engorda?
Terei de recuar muitos anos... Dezenas deles para aterrar nos anos 80 onde durante cinco anos nunca me cuidei.
Comia alarvemente e bebia ainda mais. Já para não falar do tabaco que fumava. Dormia pouco e trabalhava sempre sob stress como era um caixa de um banco, ainda por cima aquele em que o volume de dinheiro era sempre muito superior aos dos outros bancos!
Entretanto fui tomando consciência que deveria evitar algumas coisas, começando obviamente pelo tabaco. Mas aqueles pratos fantásticos... não conseguia evitar. E sempre bem acompanhado, não só por pessoas, mas outrossim por umas botelhas vinícolas.
As noites eram sempre carregadas de cerveja... Muita!
Quando decidi casar (diz o povo que quem casa não pensa!!!) já havia deixado de fumar, mas continuei a comer sem cuidado.
Bom era inevitável... e hoje estou a pagar "com língua de palmo" as asneiras feitas naquela remota época.
Isto está de tal forma nos limites que neste fim de semana que passou abri uma garrafa de vinho branco para acompanhar uma galinha à goeza feita por mim, bebi simplesmente um copo pequeno de vinho para desde ontem os meus pés darem sinal de... gota. Tudo por causa da pinga... mesmo que ínfima!
Também não posso comer carnes vermelhas (porco, vaca e enchidos), mas aqui tem a ver com uma coisa chamada ferritina e que eu tenho a mais!
Portanto irá ser pela boca que irei desta para melhor. Se não for com a gota, será de coração por alguma comida com mais colesterol.
Hoje comemora-se mais um 25 de Abril. Vermelho, mas sem corantes nem conservantes (como brincavam naquela altura os anarquistas!)
Li há muitos anos que a história dos acontecimentos só se começa a fazer ao fim dos primeiros 50 anos. Portanto estamos a um disso acontecer.
Independentemente de mais 12 ou menos 12 meses a história daquela quinta-feira não se muda, por muito que tentem.
Hoje e com o actual panorama político pergunto-me muitas vezes se foi para isto que se fez aquele golpe de Estado, celeremente aproveitado pelo PCP para lhe chamar uma revolução. Diria que naquela altura nada percebia de política e muito menos imaginaria aquilo que iria acontecer muitos anos mais tarde.
A 11 de Março de 1975 o governo da época aproveitou umas escaramuças para fazer valer a sua ideia progressista e estatizante com a nacionalização de grandes empresas, bancos e seguradoras. Com os custos que mais tarde haveríamos de pagar!
O 25 de Abril poderia ser um marco MAIS positivo se tivéssemos uma classe política competente, com visão de futuro e focada no país! Porque o que temos são jotinhas (os senadores ou são demasiado velhos ou então já morreram!) fabricados nas concelhias partidárias, muitos deles sem sequer penetrarem a fundo no mercado de trabalho e que num ápice surgem no topo dos partidos. Conheço diversos e dos vários quadrantes políticos.
Se Salgueiro Maia e outros camaradas de armas que já partiram estivessem vivos agora, com toda a certeza que se sentiam desiludidos com o caminho que este país levou! Não me falem que prevalece a democracia pois esta também já tem os dias contados.
Basta que continuem a dar à direita azo para que tal aconteça!
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é no actual contexto mundial assunto permanente em todas as reuniões de alto nível. Imagino eu!
Mas nestas coisas da política internacional nem sempre o que parece é (quase nunca!).
Vejo alguns presidentes de países a chegarem-se à frente no sentido de encontrarem meios e fórmulas de obterem a paz. Reparem que quem conseguir mediar este conflito de forma a alcançar o fim da guerra, ficará não só nos anais da história Mundial como angariará um enormíssimo prestígio para si e consequentemente para o País.
Notei isso com a visita do Presidente chinês Xi Jinping à Rússia. Como percebi a mesma ideia, logo no início do conflito, em Erdogan da Turquia, se bem que os interesses deste seriam também meramente locais. Agora escuto o actual Presidente Lula da Silva ao mostrar uma vontade de estar no centro das grande decisões internacionais. E o fim da guerra pode ser (será certamente) uma delas.
O problema porém está do outro lado da guerra, onde dois contendores estão olimpicamente de costas voltadas para a paz.
Em 2020 enquanto fazia uma das minhas usuais caminhadas matinais na praia, encontrei uma menina que escreveu isto,
Sempre calculei que estas palavras escritas na areia por uma menina de 12 a 13 anos, cujos pézitos ainda se conseguem vislumbrar na fotografia, um dia me fariam lançar um desafio.
Ei-lo agora, quase dois anos passados!
Para quem não entende o que a menina escreveu eu ajudo. Diz o seguinte: "Era uma vez uma mulher chamada Edna que tinha problemas de visão. Um dia..." (as reticências são minhas!).
Face ao que precede proponho um exercício de escrita que consiste em continuar a estória a partir desta frase.
O convite fica assim lançado a todos quantos aqui vierem e pretenderem afoitar-se neste desafio. Sem limites de palavras, ideias e de tempo. Se porventura alguém não tiver um blogue, pode também escrever e enviar-me o texto por mail (está no meu perfil!!!) que eu publicarei aqui.
Agradeço finalmente, a quem participar, que façam uma ligação para este postal de forma a que saiba quem escreveu!
Vamos lá... que o calor vai apertar e nada melhor que uma boa estória.... para escrever e ler neste dias quentes!
Estou no meu escritório a escrever e a perceber, ao mesmo tempo, o que me rodeia. Aproveitei e sentei-me numa velha cadeira de pau santo, bem estimada e arranjada que comprei recentemente. À minha frente vai balançando um pendulo num relógio de parede da "Boa Reguladora" provavelmente dos anos 60 e que trabalha impecavelmente.
Atrás de mim um móvel de madeira, mais recente e de relativa qualidade que comprei numa feira e onde residem por ora os livros deste escritório.
Também numa das paredes uma velha prateleira para livros, diversos quadros, alguns bem velhos
e uma cópia reles de um quadro famoso.
Esta mesa onde reside o portátil onde esgalho este texto é outrossim uma mesa de jogo recente, em mogno, mas que nunca foi usada na sua real função. No chão de cada um dos lados da mesa duas vasilhas de barro, velhas quase como o mundo e que a minha avó usou amiúde. Uma para colocar as borras do azeite e a outra para conservar os enchidos também em azeite. Outros tempos...
A um canto mora um enorme candeeiro em pau preto muito trabalhado, herança de um tio da minha madrinha que não desejando o lúzio preferiu oferecer-me. Um cinzeiro, também ele em pau preto, ao qual não dou uso, acompanha o dito candeeiro.
Na estante muitos livros velhos, amarelados do tempo e da idade, outros nem por isso. Noutro lado da estante, numa espécie de vitrine, peças em loiça velhas quase todas herdadas.
Há ainda um banco alto de madeira que retirei do lixo da empresa onde estive tantos anos. Trouxe-o para casa, tratei-o como se fosse alguém e agora mora aqui comigo. As suas travessas em baixo estão gastas, muito gastas...
Resumindo: olho para este escritório e gosto do que vejo porque cada peça que aqui está tem um significado, um sentido, um propósito. Porém entendo perfeitamente que os meus herdeiros olhem para isto e considerem tudo um verdadeiro lixo. Faz todo o sentido... e não os culpo!
Mas, da mesma forma que os meus pais e tios nunca ligaram às coisas dos meus avós, pode ser que a minha neta se venha a interessar, como eu me interessei pelas coisas dos meus antepassados.
Entretanto serena e melancolicamente vou mirando estes objectos com história e tantas, tantas estórias...
Vivemos tempos muito estranhos. E não estou a falar unicamente do Covid.
Pairam sobre a sociedade em geral diversas ameaças e perante as quais ninguém parece ter qualquer intenção de se resguardar ou pelo menos de alertar a restante população.
Afirmam os especialistas que a história do Mundo é mais ou menos ciclica. O que equivale dizer que aquilo que aconteceu há cem anos pode voltar novamente a surgir. Noutros moldes é certo, mas muito semelhante.
Na verdade têm vindo a surgir pelo Mundo uns iluminados, adeptos de discursos inflamados e que através das suas palavras assentes em promessas completamente absurdas e imbecis vão colhendo cada vez mais apoiantes.
Tudo porque o terreno que ora pisamos é propício a estes desmandos políticos. O que equivale dizer que esta verborreia é tida, por alguns, quase como um grito de revolta.
Seria bom que a esquerda e outros partidos democráticos, portugueses e não só, percebessem rapidamente o que está em causa em Portugal, na Europa e no Mundo. E arrepiassem rapidamente caminho.
Para depois não se virem desculpar com as "direitas", quando, no fundo, no fundo foram as esquerdas que criaram o lamaçal onde os outros agora caminham.
As ditaduras começam a surgir no horizonte. As palavras escritas, proferidas são demasiadas vezes mal interpretadas originando censuras prévias ao velho estilo pidesco. As imagens (ou a falta delas) não servem para informar, mas para politizar. A democracia é um antro de gente (quase) inútil.
Por tudo isto não se admirem que os "Trumps" desta vida ganhem força e surjam como salvadores de pátrias.
Estou na minha sala aquecida e tenho a meu lado uma vitrine cheia de peças de loiça e não só, que chegaram à minha mão por diversas vias.
Desde "matrioscas" russas recentes, uma terrina do século XVIII, passando por pequenas caixas de prata, bules, chávenas, açucareiros, bonecos de madeira exótica há aqui um pouco. Numa das prateleiras destingue-se mesmo um galheteiro também com alguma idade.
Olho e pergunto-me o que farão os meus herdeiros a tudo isto quando eu desaparecer? Eles que não querem nada em casa, a não ser o indispensável!
Tantas coisas que carregam consigo diferentes histórias. Outras que me foram oferecidas por alguém que gostei muito (digo gostei porque algumas jã não estão entre nós). E há também peças que foram autênticos testemunhos de amizade.
Tenho também consciência que nenhum dos meus descendentes pediu para que eu guardasse estes objectos, no entanto todos eles fazem parte da minha vida
.
No entanto quando eu partir façam o que quiserem deles. Já cá não estarei para me preocupar. Até porque nada disto é verdadeiramente meu. Apenas sou um mero e singelo guardador!
Alguém se lembra da greve dos motoristas de matérias perigosas? Estávamos em Agosto de 2019... Havia quem já estivesse de férias e queria regressar e quem quisesse ir de férias sem o poder fazer.
Lembro-me que por essa altura o país esteve quase totalmente parado. E recordo uma frase que li à época: "Uma crise na económica portuguesa de repercussões drásticas".
Quase um ano passado sobre a tal greve, que imobilizou o país, aquela crise foi um singelo ensaio daquilo que se passa neste momento. Mesmo com algum desconfinamento certo é que a economia lusa levou uma surra valente. Que ninguém conseguiu adivinhar mesmo nos piores cenários.
Mas antes do Verão de 2019 e das anormais consequências com as ditas greves, já Portugal passara por um outro desafio económico aquando da presença da tróica.
O que acho interessante é que raras foram as empresas que aprenderam com aquelas crises. Aquelas continuaram a gastar à tripa-forra e a não olhar a despesas. O mundo estava em alta... portanto. Havia que usar a lei de "Gastar Vamos!"
Também tenho a perfeita noção que jamais se imaginaria uma pandemia deste cariz.
Porém quando esta situação abrandar, com ou sem vacina, as empresas voltarão ao fulgor de antigamente, olvidando o passado recente.
Ou como diria alguém: o melhor do ser humano é saber esquecer!
Um destes dias comprei uma pequena e velha balança de um só prato, geralmente conhecida como... "carteira", já que a sua principal função foi pesar as cartas referenes à correspondência.
O preço não foi uma pechincha, mas esta balança carrega consigo... história. Uma história feita de muito trabalho e muitas cartas pesadas.
Bom é sobre este tema que venho aqui hoje: as histórias que os objectos trazem consigo...
Há muitos anos um departamento da empresa onde trabalho mudou de instalações, deixando atrás de si um rasto de muitos papéis. De tal forma que no cimo do monte de documentação em desuso havia muitos anos, achei um velho banco de madeira visivelmente muito usado. Perguntei a um dos responsáveis o que iriam fazer com tudo aquilo e a resposta foi lesta:
- Lixo!
Perante esta decisão decidi levar o banco para casa onde o restaurei, mandando mais tarde forrá-lo com pano diferente do original.
Hoje esta peça de mobiliário está na minha casa, mas raramente se usa. As travessas lá estão muito gastas e os rebordos estão claramente puídos. Prova cabal de que o banco foi testemunha ocular de uma história ou de muitas histórias.
Assim como uma lamparina a alcool que servia para derreter o lacre que selava com sinete as cartas importantes. Ou um candeeiro de secretária. Tudo coisas que se falassem contariam muitos, mas muitos episódios.
Por isso guardei estes objectos sem grande valor fiduciário, mas assumindo que historicamente tiveram a sua real importância.