Há muitos anos, ainda o 25 de Abril era uma tenra criança, tive uma conversa, com um colega assumidamente progressista, sobre política. Lembro-me bem dos temas desse início de tarde quando a caminho da escola debatemos ambos: partidos, democracia, liberdade, ditadura, censura e ideologias.
De todo o diálogo com este meu colega, hoje bom amigo e excelente médico, ficou apenas gravado na minha memóriaa uma frase que era mais uma filosofia ideológica. Assumiu ele:
- Jamais poderei ser um democrata!
- Como não és um democrata? Um ferveroso adepto da nossa esquerda mais radical.
Ele respondeu-me:
- Nunca poderei ser um democrata porque há ideologias e partidos com os quais eu nunca consigo conviver! Nomeadamente os partidos fascistas (naquele tempo a palavra direita era raramente usada).
- Mas não há disso em Portugal... Partidos fascistas...
- Isso julgas tu. Um dia verás.
Estranhamente só este fim de semana percebi quanto razão havia naquelas palavras proferidas pelo meu amigo.
Quase a comemorar meio século de democracia, fico com a ideia de que esta é um conceito em vias de extinção. Hoje como o Mundo e a nossa sociedade estão a ser formatados, a ideia genuína do bem comum quase desapareceu. E uma das razões prende-se com a dificuldade dos lideres partidários falaram, a sério, dos problemas das sociedades. A sério e a fundo...
Isto percebe-se muito bem nos debates televisivos, pois o tempo para falar realmente dos problemas da nossa sociedade é tão escasso que quase nem merece a pena ver um debate. Também os representantes dos partidos são culpados porque, em vez de exporem as suas propostas para o futuro, passam o pouco tempo que têm a atacar políticas antigas ou outros partidos. A conclusão primeira que se tira disto é: não votes em mim pelo que apresento, vota por aquilo que sou contra!
Tenho vindo a dar alguma atenção aos encontros televisivos. A primeira irritação é aquele cronómetro indicando o tempo gasto por cada responsável político, a falar! Depois vem aquele discurso contra a tróica, ou a Europa, o Euro em vez de se esclarecer verdadeiramente o que se pretende para o futuro.
Li que até as sapatilhas da Mariana Mortágua foram mais faladas que as soluções que apresentou. Isto mostra que as pessoas já não querem ouvir estes políticos e que preferem saber mais da vida dos famosos ( oque comem, bebem, vestem, etc.).
É usual escutar-se referindo os políticos: são todos iguais, são farinha do mesmo saco! Diria que é quase verdade!
Mas... e muitos de nós não seremos outrossim iguais a tantos outros?
Finalmente estes debates só demonstram que a estamos muito longe de sermos um país evoluído e competente. Daí estes debates a roçar o sofrível!
Durante muitos anos este dia foi quase esquecido, tanto pelos portugueses, mas essencialmente pela troupe de esquerda que sempre viu nesta iniciativa militar um revés à ideia de fazer de Portugal uma Cuba ou Albânia dos tempos modernos.
O país virara radicalkmente à esquerda com as consequentes nacionalizações de Banca, seguros e demais tecido económico e empresarial.
Portugal esteve, por esta altura, à beira de uma guerra civil! Muitas famílias desentenderam-se por causa das opções políticas de cada um. O clima social crescia deveras crispado e com natural tendência para piorar.
As próprias forças armadas dividiam-se entre apoiar o Governo do General Vasco Gonçalves e do Presidente da República Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho comandante do COPCON ou alguns militares mais moderadas donde se destacava claramente Jaime Neves, comandante do Regimento de Comandos, que teria uma grande influência no sucesso do 25 de Novembro na recolocação de Portugal no caminho da verdadeira democracia!
Vivemos agora novos tempos! Dessa época já longínqua poucos gostam de recordar, especialmente se forem de esquerda. Porém o pior é mesmo a direita lusa ao tentar aproveitar politicamente de algo para o qual nada contribuiu!
Daqui a ano e meio comemorar-se-á meio século de... democracia. Já a tanta distância a falar disso? Perguntar-me-ão.
Bom diria que com o que estamos a assistir diariamente a tal democracia nascida em 74 tem sido a capa legal para todo o tipo de negócios e negociatas envolvendo empresários, políticos, autarcas e demais cidadãos.
Sinceramente a culpa não é totalmente daqueles que ganham dinheiro, fama e acima de tudo poder, à custa das trocas de influências, mas em grande parte de um povo que continua apático, amorfo, insonsso no que a este tipo de gente diz respeito.
Tivéssemos todos nós a bravura de outros povos e provavelmente muitos que agora aparecem envolvidos, mais aqueles que nunca ficaremos a conhecer, jamais ganhariam o que ganharam.
Recordo a este propósito uma conversa que escutei entre dois empresários há mais de 40 anos. Estávamos em vésperas de eleições legislativas e um deles perguntou ao outro, em tom de brincadeira, em quem iria votar. O interpelado foi célere na resposta dizendo que iria votar no PS porque com este partido a corrupção era muito mais barata. Estávamos em 1980!
Pergunta: mudou alguma coisa desde lá?
Continuamos tão brandos como sempre e somos cada vez mais incapazes de dar a este país uma sociedade realmente justa e evoluída! Como nos foi (e ainda nos é!!!) prometida!
Volto às comemorações que daqui a pouco mais de um ano se realizarão. Elogiar-se-á nessa altura a conquista da democracia, da liberdade ou da justiça em Portugal. Discursos que só servirão para continuar a enganar o povo luso, sempre tão crente nas bonitas palavras.
Pois é... na realidade sabemos que isso da verdadeira democracia só existe nos países onde os políticos reconhecem nos eleitores, que democraticamente os elegeram, dignidade e razão. Dois chavões fantásticos, mas que em Portugal são apenas sinónimos de... fantasia linguística!
Tal como havia aqui previsto não fui votar. Farei parte de uma estatística negativa, a exemplo de quase metade da população portuguesa.
Fiz uma rápida pesquisa e descobri que no novo milénio e para as autárquicas a abstenção tem subido. De 39,97% em 2001 para 43,16% nas eleições de ontem com a passagem por uns 49,99 em 2009.
Não serei um daqueles analistas políticos que olham para estes números e avançam logo com alarmes políticos. Mas não posso deixar de ficar preocupado com esta evolução... negativa.
Então porque não foste votar? Poderão perguntar.
Na verdade não fui votar porque não conhecia nenhum dos candidatos, porque só vi obras de intervenção na rua e na sociedade por ser obviamente ano de eleições e acima de tudo porque estou cada vez mais triste com o estado da nossa política. Mesmo aquela que começa ao nível mais baixo (leia-se freguesias).
Acho curioso que os líderes de vários partidos assumam publicamente que é um dever votar, mas façam muito pouco ou se calhar nada para que os eleitores tenham naqueles alguma confiança.
Obviamente que haverá sempre os que foram votar só porque sim e por isso votam no partido da sua preferência independentemente de quem for o candidato. Eu gosto pouco disso e prefiro ficar em branco ou não votar do que eleger alguém sem ser em verdadeira consciência.
Oiço obviamente espantado a ideia de alguns comentadores ao afirmarem de que o voto deveria ser obrigatório.
Definitivamente só espero que ninguém aprove esta absurda ideia...
Nota: as percentagens aqui referidas foram retiradas do Portal do MAI exceptuando as de ontem (ainda em actualização)
Os últimos e trágicos acontecimentos no Capitólio norte-americano advêm de um vírus que se foi instalando nos últimos anos no país do Tio Sam. E parece que não terá cura!
De uma forma mais assertiva diria que os americanos viveram numa realidade política e social paralela. A democracia tal como foi implementada na América esteve sempre em perigo.
Não fossem algumas instituições internas, provavelmente os Estados Unidos viveriam hoje à beira de uma impensável ditadura.
Donald Trump fez vir ao de cima o pior dos seus concidadãos. A violência urbana, o racismo, as demandas com a China e não só, a fuga dos acordos ambientais, a saída da OMS e tantas e tantas acções ignóbeis que só prejudicaram os Estados Unidos. Já para não falar da não aceitação da pandemia…
O real problema vem agora quando Biden tomar posse, já que os apaniguados de Trump não irão deixar a sociedade recuperar das feridas causadas pelo presidente derrotado. Será bom que os Estados Unidos se preparem para uma guerra. Não contra o covid-19, não contra uma qualquer Jihad islâmica, mas contra um vírus que se instalou em muitos (demasiados) americanos: o virustrump!
Donald Trump ficará, certamente, na história dos Estados Unidos como o mais fraco e imbecil Presidente daquele grande país. Muito mal preparado para o cargo, demasiado truculento, sem educação e claramente pouco polido, vai tentando nas últimas horas inventar casos, de forma a não ser corrido da Casa Branca.
Com enormes laivos de ditador conseguiu a proeza de colocar todo o Mundo contra si. Exceptuando outro imbecil no Brasil, ninguém tomava a sério as palavras de Trump porque sabiam que tinham tanto valor como uma nota de três dólares.
Repito o que escrevi noutro postal… Trump nunca pensou chegar à Casa Branca. Mas aqui chegado, julgou-se estar num “reality show” tão comum no país do Tio Sam! Foi deste modo jogando com as pessoas e instituições e não fosse esta pandemia e a forma irresponsável como lidou com ela, talvez eu não estivesse a escrever este texto.
Também não reconheço em Joe Biden aquela figura carismática que poderá mudar a filosofia americana de um dia para o outro. Mas, desde o início da campanha, que era eBIDENte que o democrata, venceria Trump.
Agora é esperar por Janeiro para fazermos isto a Trump.
No dia 25 de Abril, enquanto fazia “zapping” em busca do canal do meu clube, acabei por parar num canal que raramente vejo, mas onde naquele instante se debatia o feriado.
Para além do moderador, estavam presentes uma deputada do PCP – Rita Rato, um antigo bastonário da Ordem dos Advogados – José Miguel Júdice e um conhecidíssimo politólogo que o ano passado esteve no centro de uma idiota contestação universitária – Jaime Nogueira Pinto.
Nada disto teria muita importância se a determinada altura não tivesse escutado esta frase dito por um dos oradores:
“Prefiro ser governado por comunistas portugueses a ser governado por direitistas belgas”.
Agora se não viram o debate imaginem quem terá dito esta frase…
Se fosse o Donald Trump (de quem não gosto de todo) a proibir uma equipa de jornalistas portugueses de entrar em solo americano, o que diriam às nossas gentes?
Vá lá sejam sérios, pelo menos uma vez na vida e digam lá qual seria a vossa palavra de ordem!
Há na sociedade lusa quem vista ainda o fato que usou naquele Verão quente, em 1975. Todavia como não consegue libertar-se dele vagueia pela sociedade em busca de quem o oiça e siga.
Só que Portugal evoluiu e hoje a sociedade, mesmo sendo mais aberta, quiçá mais esclarecida, reconhece naturalmente onde começa e acaba o respeito por opiniões que não são coincidentes com as nossas.
Ora o caso do adiamento de uma conferência, numa das mais prestigiadas universidades do País, onde Jaime Nogueira Pinto seria orador, parece ser um exemplo de quem é intolerante e tem ainda alguns resquícios de uma derrota política mal resolvida.
Sinceramente não me interessa quem promoveu o encontro, preocupa-me quem pretendeu evitá-lo.
Uma coisa é certa: a democracia não exclui nenhum português da sociedade só porque pensa de maneira diferente. Mas há por aí quem não assuma esse pensamento, mas se julge melhor que todos os outros lusos cidadãos só porque se consideram iluminados e esclarecidos.
Vejo-os muitas vezes presos a valores que cairam há muito em desuso. Valores dos quais não abdicam... nem que seja por mera teimosia.