Passam-se hoje precisamente 35 anos desde a noite em que mudei a minha visão sobre a política em Portugal.
Era mais uma quinta-feira de aulas nocturnas chatas e aborrecidas. O sono era mais que muito mas ainda assim teimava em ir à escola. E saía quase sempre tarde.
Essa noite não foi excepção! Enquanto me dirigia para a paragem do autocarro, esfomeado e quase dormente de tanto sono, reparei que um casal jovem apresentava-se anormalmente excitado. Não com aquela excitação da juventude que procura prazer mas algo diferente que não consegui perceber na altura.
Chegou o autocarro, sentei-me num lugar isolado e meia hora depois estava em casa.
Os meus pais já se haviam deitado mas a minha mãe ainda estava acordada. Do fundo do quarto já às escuras ouvi ela perguntar:
- Já sabes o que aconteceu?
Não soubera de nada e respondi:
- Eu não... O que foi?
- Morreu o Sá Carneiro! Caiu o avião onde ele viajava.
Fez-se então luz. Então era isso que o tal casal jovem quase comemorava. A morte de alguém... Mesmo que aparentemente adversário político...
Foi a partir desse dia que deixei de acreditar piamente em partidos. Sejam eles de esquerda ou direita. Porque o ser humano devia a primeira preocupação de todos eles... E foi/é/será quase sempre a última!
Em Portugal é costume fazer-se (quase) tudo ao contrário. Ou dito de uma outra forma… faz-se tudo pela negativa. Olhemos estes exemplos:
- não se vota num partido que achamos que poderá ser o melhor para o país mas naquele outro só porque é do contra;
- estamos contra os ricos não por serem ricos mas somente porque não conseguimos sê-lo também;
- assumimos a postura de ser contra um governo só porque o líder do nosso partido assim o diz;
- somos contra à greve do Metro não porque ela pode parecer injusta mas somente porque nos prejudica;
- somos contra o Costa, porque já fomos contra o Passos Coelho e contra todos os outros que os antecederam porque é assim que deve ser;
Assente nestas ideias estão também alguns líderes partidários. Senão vejamos:
- Jerónimo do PCP está sempre numa permanente luta contra tudo e contra todos;
- Catarina do BE está contra a Europa, o BCE, a Comissão Europeia porque inocentemente acredita que consegue mudar o mundo;
- Costa está contra, não sabe bem o quê, mas está;
- Passos Coelho, que regressou ao hemiciclo de S.Bento está contra este governo e à sua nova (ou velha???) política;
- Paulo Portas ainda anda à procura de algo para estar contra;
Ora tudo somado temos um país que está contra si mesmo. Que faz política pela negativa jamais pela positiva, que nunca anda à procura do lucro mas corre sempre atrás do prejuízo.
A verdade é que, provavelmente, sempre fomos assim.
Esta é a grande conclusão que faço dos meus últimos anos de blogosfera. É natural que o entusiasmo dos primeiros tempos nos inunde a cabeça com muitas ideias e alguns textos.
Mas como tudo na vida esse gás vai desaparecendo e só a vontade férrea dos próprios autores é que consegue manter vivo um blogue. Tenho assistido ao dealbar de muitos espaços mas que ao fim de pouco tempo desaparecem silenciosamente. E é pena porque em alguns liam-se coisas muuuuito interessantes e muito bem escritas.+
É obvio que isto da escrita não é para todos... Tem de haver grande disciplina e estar-se muito atento ao que nos rodeia. De outra forma nem vale a pena alguém aventurar-se a escrever.
Desde há uns tempos, e dando provimento ao que escrevi atrás, decidi que haveria de escrever, em média, um post por dia. Nesta contabilidade que vou assumindo tenho à data de hoje um saldo negativo de dois textos. Algo sem grande relevância já que facilmente reponho a situação. Mas acreditem que manter este "menino" não tem sido nada fácil.
Também se fosse fácil não tinha graça nenhuma, não acham?
Coincidência? Talvez, mas o que realmente importa é que o nº 1 da Revista "on-line" Inominável já está aí para todos a lerem e apreciarem.
Quase exclusivamente dedicada aos temas do Natal e do Ano Novo, este projecto (eu chamo-lhe aventura) tem muitas pernas para andar.
É normal que haja muito para melhorar mas cabe certamente ao leitor essa responsabilidade de nos fazer chegar os desejos, sensações e o melhor de tudo... as críticas.
Sem estas não podemos sentir o verdadeiro pulsar dos nossos leitores.