Finalmente temos um governo novinho em folha: caras novas, pensamentos diferentes, quiçá posturas melhoradas.
Após uma campanha aguerrida onde o PS apenas se preocupou em atacar os programas dos adversários sem apresentar propostas (claramente refém do que assinara com os técnicos externos, do FMI, da Comissão Europeia e do BCE) o Partido Socialista regressa à oposição sem líder e sem programa.
Quanto ao novo governo tem tudo para fazer um bom trabalho. Gente pouco conhecida do grande público nas Finanças e na Economia e nada presas a interesses económicos. Técnicos reconhecidos (Paulo Macedo) e uma mulher cheia de “estaleca” (Paula Teixeira da Cruz) capaz, se assim lhe derem campo de manobra, de fazer uma lavagem na Justiça onde existe muita coisa suja a necessitar de uma boa barrela.
Paulo Portas e Aguiar Branco são os únicos ministros que têm alguma experiência em cargos governativos, para além do Secretário de Estado Marques Guedes.
Os outros Ministros são autênticas incógnitas a começar pelo Primeiro-ministro. Todavia é tempo de se lhe dar um tempo de estado de graça, que de graça não vai ter muito pouco, tendo em conta o que aí vem de austeridade.
Mas o que mais admiro neste governo e nas pessoas que o constituem é a coragem evidenciada por todos ao aceitarem este desafio de ministrarem um país a um passo pediátrico da bancarrota.
Não vai ser fácil cortar milhões em coisas que nos pareciam garantidas para toda a vida. Pensões, subsídios, taxas moderadoras, impostos, tudo irão sofrer grandes alterações, com a consequente contestação pelos sindicatos e outras organizações.
Cabe naturalmente ao governo explicar todas as medidas e não deixar que comentadores de televisão, sedentos de “sangue” governativo, expliquem, cada um à sua maneira, as novas regras.
É aqui que o novo Ministro da Economia vai ter um papel muito importante, pois deve tentar de todas as formas fomentar uma concertação social sem a qual temo que nenhuma medida tenha efeitos verdadeiros.
Sei que se aproximam tempos muito duros. Mas é nestes casos que me lembro dos antigos navegadores portugueses que acreditavam no Adamastor e mesmo assim conseguiram ultrapassar esse “fantasma”.
Será que conseguiremos afastar o fantasma da Bancarrota?
O tempo o dirá…mas entretanto vou acreditar que sim.
Lembram-se do PRD? Que em 1985 foi a terceira força política e que meia dúzia de anos depois já não tinha qualquer representação parlamentar? Lembram-se? Pois é, parece que estou a ver o mesmo filme no Bloco de Esquerda.
Não sou politólogo e muito menos comentador profissional, daqueles que (quase) toda a gente escuta com atenção. Todavia aprecio a política e gosto de analisar os resultados das eleições.
Então vejamos:
O PCP/CDU é uma organização pouco volátil e muito fiel aos seus princípios. Entre 2005 e 2011 ganhou (apenas) mais 7000 votos e que se traduziu em mais um deputado que em 2009 e mais dois que em 2005. Todavia perdeu cerca de 6000 votos em relação às eleições de 2009.
O CDS subiu ligeiramente assumindo-se como terceira força política, mas desta vez com um papel naturalmente mais importante na formação de um novo governo, onde terá maior preponderância e obviamente mais ministérios que na última aliança, nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes.
O PS sai derrotado nestas eleições muito por culpa de um eleitorado fiel mas que preferiu abster-se a votar contra o Partido Socialista. Obviamente que este era um resultado esperado (talvez um pouco abaixo das expectativas, tendo em conta as sondagens) pela maioria dos dirigentes socialistas.
O PSD regressa assim ao poder pela mão de um “ex-jota”, que fez uma campanha difícil, mas séria sem tentar “inventar” desculpas para os maus tempos que se adivinham. No debate televisivo conseguiu manter o nível enquanto Sócrates tentou baixar esse mesmo nível de forma a ganhar alguns pontos. O PSD ganha quase meio milhão de votos, aproximadamente o mesmo número que o PS perde no mesmo tempo (transferência de eleitores? Talvez!).
Finalmente o BE. Pareceu-me o grande derrotado da noite eleitoral porque baixa para metade a sua representação parlamentar, o que muito me admira. Pois se havia época favorável ao crescimento do BE seria agora numa altura em que há problemas laborais, sociais e económicos. Premissas perfeitas para que um partido, de cariz mais protestante, pudesse finalmente colar-se ao PCP ou até mesmo ultrapassá-lo. Curiosamente aconteceu o contrário, tendo o BE perdido metade dos votos em relação a 2009 e um terço para 2005. Cabe ao Dr. Francisco Louçã tentar explicar internamente este desaire, que não deve estar desassociado à forma como fez a campanha e à sua teimosa ausência das negociações com o FMI e o Comissão Europeia (mesmo que com elas não concordasse). Se com o PCP, todos os seus votantes são fiéis e aconteça o que acontecer o Partido leva sempre o voto, com o BE há eleitores que podem “fugir” para o Partido comunista ou até para o PS. Uma volatilidade que varia da postura dos seus dirigente.
O BE tem sido uma força interessante na AR. Todavia a forma um tanto azeda, truculenta como o seu Coordenador principal falou às pessoas nesta campanha, para além de outras opções falhadas, levou-as a ver noutras organizações (leia-se MRPP)melhores opções para o seu voto de protesto. Se o BE não tomar cuidado arrisca-se a sofrer do, a que eu chamo, “Fenómeno PRD”.